Os melhores jogadores de ténis estão cansados de jogar tantos torneios

Carlos Alcaraz e Alexander Zverev foram os mais recentes atletas a criticar o calendário competitivo sobrecarregado.

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Carlos Alcaraz Annegret Hilse / REUTERS
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Graças a uma exibição sensacional diante de Taylor Fritz no derradeiro encontro, Carlos Alcaraz foi a grande figura da última edição da Laver Cup, realizada no passado fim-de-semana. Mas além de ter contribuído com os pontos necessários para a selecção da Europa recuperar de 4-8 no último dia e vencer (13-11) a equipa do mundo, o jovem tenista espanhol foi também notícia ao alertar para o calendário sobrecarregado do circuito profissional masculino.

A Laver Cup foi a 14.ª prova que Alcaraz disputou esta época, que, para o tenista de 21 anos, deverá terminar no fim de Novembro, com a fase final da Taça Davis. Já com 52 encontros de singulares realizados (e mais seis de pares), Alcaraz reconheceu a luta com a falta de motivação e lamentou a obrigatoriedade, imposta pela ATP, de participar em vários torneios: oito dos nove Masters 1000 e pelo menos quatro ATP 500.

“Por vezes não me sinto motivado. Como já disse muitas vezes, o calendário é muito apertado e há muitos torneios, por isso não tenho dias de folga ou não tenho tantos dias livres como gostaria. Por vezes gostaria de tirar uns dias para mim, mas não consigo; tenho de treinar e viajar e também há o jet lag… Por isso, às vezes não me apetece ir aos torneios, não vou mentir”, confessou.

A duração média dos encontros nos grandes torneios aumentou em 25% desde o início do século e está mais exigente do ponto de vista físico, pois joga-se com mais potência e velocidade. Para jogadores de topo como o número três do ranking, campeão este ano em Roland-Garros e Wimbledon e medalha de prata nos Jogos de Paris, o risco de lesões, saturação mental e perda de motivação tem aumentado consideravelmente.

“Já senti isso várias vezes, porque gostaria de ficar em casa com a minha família ou com os meus amigos, e tenho que encontrar a motivação para simplesmente ir jogar o ténis certo, ou colocar a cara certa nos treinos e jogos”, revelou o tenista que ocupou o topo do ranking em 2022, após conquistar o primeiro de quatro majors, no US Open.

Contudo, Alcaraz reconhece que há alguns jogadores que se sentem confortavelmente com este calendário. “Cada jogador tem as suas próprias sensações. Alguns até querem jogar mais; muitos acreditam que este é um bom calendário; e outros dizem que é muito apertado e que há muitos torneios durante o ano. Sou um destes últimos, daqueles que pensa que há muitos torneios obrigatórios e que, provavelmente, nos próximos anos haverá ainda mais. Então, vão matar-nos de alguma forma. Neste momento, muitos bons jogadores vão falhar muitos torneios devido a lesões”, avisou Alcaraz.

O espanhol foi secundado nas críticas por Alexander Zverev, seis anos mais velho. O tenista alemão defende que o calendário actual é insustentável e potencialmente perigoso para a saúde, física e mental, dos jogadores, pois estes não têm muito tempo entre torneios para descansar.

“Não há desporto em que se compita tanto, não pode continuar assim”, disse o alemão, dando como exemplo a época em curso que começou a 29 de Dezembro e termina no fim de Novembro. A extensão dos torneios Masters 1000 também não ajudou.

“Os eventos Masters 1000 de duas semanas são excelentes para jogadores classificados entre 50 e 100 no mundo, porque têm a oportunidade de jogar um evento do sorteio principal. Não é óptimo para os 10 melhores jogadores. É tão simples quanto isso. Sim, dizem que tens um dia entre cada encontro, mas na verdade isto não é descansar. Descansar é quando se está a passar tempo em casa, a dormir na sua própria cama, talvez com a sua família, os seus cães, os seus filhos”, afirmara Zverev já em Maio.

A perda de influência dos jogadores nas decisões da ATP – criada em 1990 por jogadores – tem sido uma das queixas mais antigas no circuito masculino. “Aqui é tudo uma questão de dinheiro, é a única coisa que interessa à ATP, nós jogadores não temos poder de decisão”, resume Zverev.

O excesso de torneios no circuito profissional não é um exclusivo dos homens. Também Iga Swiatek, líder do ranking mundial feminino, já se tinha queixado do aumento de torneios obrigatórios (dez WTA 1000 e seis WTA 500). A dois meses do final da época, a polaca de 23 anos já leva 61 encontros realizados em 2024.

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