A Cards Against Humanity está a processar a SpaceX – tudo por causa de um terreno

Em 2017, a empresa detrás do popular jogo de cartas comprou um terreno na fronteira entre os EUA e o México para impedir a construção do muro de Trump. Agora acusa Elon Musk de o ocupar.

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A empresa do "jogo de festa para pessoas horríveis" está a processar a SpaceX de Elon Musk Unsplash
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A Cards Against Humanity, empresa por detrás do jogo de festa com o mesmo nome (que se assume como deliberadamente de mau gosto), interpôs uma acção judicial de 15 milhões de dólares contra a SpaceX, alegando que o gigante aeroespacial liderado por Elon Musk invadiu um terreno que lhe pertence no Texas, perto da fronteira com o México.

A Cards Against Humanity comprou a propriedade em 2017 como parte de uma manobra destinada a impedir os planos do então presidente Donald Trump de construir um muro ao longo da fronteira sul dos EUA. Ao longo da duração da campanha de crowdsourcing, cerca de 150.000 pessoas deram 15 dólares cada uma para comprar um terreno baldio mas “intocado”, lê-se no processo apresentado no Tribunal Distrital do Condado de Cameron na quinta-feira.

Contudo, durante pelo menos seis meses, a SpaceX "tratou a propriedade como se fosse sua", lê-se no processo, acusando a SpaceX e/ou os seus contratantes de invadir o espaço e, sem autorização, limpar a vegetação do terreno, colocar cascalho, trazer geradores e utilizá-lo para estacionar veículos e armazenar materiais de construção. Contactada pelo Washington Post, a SpaceX não respondeu às perguntas enviadas.

A propriedade está localizada numa zona outrora tranquila da costa sul do Texas, recentemente transformada pela instalação e desenvolvimento do complexo industrial Starbase da SpaceX. Este é uma das quatro plataformas de lançamento espaciais da empresa e inclui uma torre de lançamento de foguetões de 146 metros, descrita pela SpaceX como "um dos primeiros portos espaciais comerciais do mundo concebido para missões orbitais".

Embora a Starbase tenha empregado 2100 pessoas na região, também causou transtorno aos residentes, de acordo com uma investigação da Reuters publicada na sexta-feira, agência que noticiou pela primeira vez o processo da Cards Against Humanity.

Antes da chegada da SpaceX, a propriedade da empresa de jogos era um local onde os "cavalos selvagens galopavam livremente ao luar do Texas", descreveu a Cards Against Humanity num comunicado sobre o processo publicado online.

O processo judicial inclui fotografias do antes e depois. Umas mostram o terreno coberto de erva e plantas — seguidas de outras que mostram o que parecem ser materiais e equipamento de construção.

"A SpaceX ignorou os direitos da Cards Against Humanity sobre o imóvel, no fundo deslocando-a e privando-a de qualquer utilização", alega a acção judicial.

A Cards Against Humanity também alega que as suas relações comerciais foram prejudicadas pelo facto de a SpaceX utilizar a sua propriedade: tudo por causa da ligação ao fundador e director executivo, Elon Musk.

O processo dá como exemplos as alegações de sexismo e racismo feitas por trabalhadores da Tesla, outra empresa liderada por Musk; declarações feitas por Musk que foram recebidas como comentários anti-semitas e o apoio de Musk a Trump e à construção de um muro ao longo da fronteira entre os EUA e o México.

"Estes são apenas alguns exemplos entre muitos outros actos manifestamente ofensivos para aqueles que contribuíram com dinheiro" para comprar o terreno em 2017, diz o processo.

O principal produto do Cards Against Humanity é um jogo de cartas em que os jogadores preenchem os espaços em branco de uma frase — o resultado mais ultrajante ganha a ronda. É vendido como um "jogo de festa para pessoas horríveis" porque o resultado consiste, muitas vezes, em frases que são intencionalmente ofensivas.

A empresa já se envolveu numa série de façanhas, das mais às menos sérias, desde que foi lançada, na sequência de uma campanha de crowdfunding que começou em 2010. Por exemplo, em 2016, através do Nuisance Committee, um grupo de acção política, financiou um cartaz em Detroit onde se lia em árabe "Donald Trump não consegue ler isto, mas tem medo".

Embora no processo de quinta-feira a Cards Against Humanity seja descrita como uma organização que se levanta "contra a injustiça", a empresa também foi acusada de racismo e sexismo pelos trabalhadores, levando um co-fundador a abandonar o cargo, informou o site de jogos Polygon em 2020. A empresa também retirou do seu baralho cartas que tinham sido criticadas como transfóbicas e que faziam referência a violação, de acordo com o Polygon.

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