Xavian Wu, o primeiro cantor e compositor transgénero de Hong Kong, procurou utilizar o festival anual LGBTQ Pink Dot HK, no domingo, para partilhar a sua história através da música.
Wu, 30 anos, que usa o nome artístico SY, estreou-se em Fevereiro e lançou três canções sobre a sua viagem de autodescoberta, que contou no festival que vai na sua décima edição.
“Muitas coisas aconteceram nos últimos dez anos, incluindo a mim, desde não me conhecer... até perceber que sou trans, ultrapassando muitos desafios, um passo de cada vez, até saber como abraçar a minha vida hoje”, disse Wu à audiência.
“Tenho orgulho na minha identidade e aprendi a aceitá-la. Não me quero esconder”, disse Wu à Reuters. “O meu objectivo é encorajar as pessoas da comunidade LGBTQ+ através da minha música.”
Hong Kong permite que as pessoas transgénero que não tenham concluído a cirurgia de reatribuição de sexo possam mudar de género nos seus cartões de identificação, mas isso implica requisitos cirúrgicos e hormonais rigorosos.
Wu apresentou o pedido de mudança de género em Abril, mas aguarda a aprovação pelo departamento de imigração de alguns documentos médicos comprovativos. “Este é mais um passo na direcção certa, mas ainda há espaço para melhorias”, afirmou Wu.
Disse que a vida antes da sua transição era um desafio, especialmente quando se assumiu perante os seus pais. Estava deprimido com o seu corpo, escondia-se em casa e evitava as casas de banho das mulheres. “Era tão difícil que eu queria mesmo morrer”, disse Wu.
Começou a gostar de música e de actuar quando era adolescente. A música ajudava-o “quando muitos pensamentos não podiam ser expressos por palavras”. Ou seja, “quando o mundo não entendia a minha situação, tive a sorte de poder usar a música para registar os meus sentimentos”.
Percebeu que era transgénero em 2017, depois de assistir a um programa de saúde em que um homem trans partilhava a sua experiência e o seu percurso mental antes da sua transição. Depois de procurar aconselhamento médico, começou a tomar testosterona em 2018 e concluiu a cirurgia na Tailândia em 2020. Wu disse que teve muita sorte em ter a sua mãe a acompanhá-lo à Tailândia e a apoiá-lo.
“Depois da minha cirurgia, senti-me finalmente confortável ao olhar-me ao espelho — de pé, direito, com os ombros para trás — e agora posso usar qualquer tipo de roupa sem me preocupar com a forma do meu corpo”, disse Wu.