Instagram cria “contas adolescentes” e dá mais poder de controlo aos pais
Pais vão poder decidir se a conta dos filhos é pública ou privada, vão saber com quem andam a falar e que tipo de conteúdos vêem. “A Meta lava as mãos da sua responsabilidade”, critica especialista.
Todos os utilizadores do Instagram que tenham entre 13 e 17 anos vão começar a ser automaticamente colocados nas novas “contas adolescentes”, anunciadas esta semana pela Meta, com o intuito de responder às críticas cada vez mais audíveis sobre os efeitos das redes sociais no bem-estar de crianças e adolescentes.
A empresa garante que as novas contas vão ter várias restrições: no conteúdo que é apresentado, no tempo que os adolescentes passam na aplicação e na interacção com outros utilizadores. A Meta promete que os adolescentes não vão estar expostos a conteúdos sexuais ou que induzam a automutilação ou o suicídio e também garante ter ferramentas para apanhar os utilizadores que mentem na idade para fugir às novas restrições.
Mas a maior novidade é que estas contas dão mais controlo aos pais sobre o que fazem os filhos na rede social. Se um utilizador com menos de 16 anos quiser tornar a sua conta pública, quiser desligar o “modo dormir” ou quiser eliminar as limitações ao conteúdo, terá de ter aprovação parental. Além disso, os pais também vão poder saber com quem é que os filhos andam a trocar mensagens (embora não as possam ler), conhecer o tipo de conteúdos que lhes está a ser apresentado no feed, definir um limite para o tempo que se passa na aplicação e até bloquear o uso de Instagram durante certos períodos.
“Estamos a reconfigurar a relação online entre pais e filhos em resposta ao que fomos ouvindo dos pais acerca da forma como exercem a paternidade ou querem exercer”, disse ao The Washington Post a responsável máxima de segurança da Meta, Antigone Davis.
Cristina Ponte, coordenadora do projecto EU Kids Online, considera que estas medidas constituem “um retrocesso” face ao caminho que vinha sendo seguido. “A Meta lava as mãos da sua responsabilidade de continuar a trabalhar para a protecção de crianças e adolescentes e põe a carga sobre os pais”, critica.
Além disso, não encontra no anúncio do Instagram “uma única linha sobre auto-regulação e auto-responsabilização” dos adolescentes, mas antes o reforço da ideia de que os pais devem ser “cada vez mais vigilantes, cada vez mais controladores”. Cristina Ponte faz notar que a adolescência “é um período decisivo para a construção da personalidade” e que, a partir de agora, “os adolescentes são subalternizados” na forma como lidam com a aplicação.
Pelo contrário, argumenta, o que a indústria devia fazer era pensar “como desenhar as plataformas àqueles que se destinam” e como “poderiam contribuir para a auto-regulação” dos jovens.
Os dados actualmente disponíveis dizem que à volta de 8% dos utilizadores do Instagram são pessoas com entre 13 e 17 anos, e que a maior fatia das contas está na faixa etária dos 18 aos 24 anos. Mas um dos problemas há muito identificados pela plataforma é que os utilizadores mentem na idade para se poderem inscrever (supostamente, só a partir dos 13 anos poderiam fazê-lo). Em ocasiões anteriores, e também agora, a empresa anunciou a utilização de algoritmos capazes de determinar a idade real das pessoas. Estava já em vigor a impossibilidade de adultos enviarem mensagens a jovens que não os seguem, a apresentação de alertas sobre o tempo passado a fazer scroll e o reencaminhamento para outros assuntos sempre que se detectava que um adolescente estava a ver repetidamente o mesmo tipo de conteúdos.
A necessidade de medidas específicas para o público mais jovem do Instagram é há muito uma reivindicação de associações de pais e de defesa dos direitos das crianças. O tema ganhou tracção pública desde que, em 2021, uma antiga gestora de produto da Meta divulgou documentos internos que mostraram que a companhia estava a ocultar efeitos nefastos da plataforma sobre a auto-estima e a imagem corporal das raparigas adolescentes. Mas a rede social também foi responsabilizada por em casos de suicídio e automutilação, de assédio e abuso sexual e de bullying. Nos Estados Unidos, por exemplo, há dezenas de acções judiciais em curso contra a Meta.
De acordo com a empresa, as novas “contas adolescentes” começam a chegar aos utilizadores dos Estados Unidos na próxima semana e devem entrar em vigor na Europa até ao fim do ano.