Falsos inspectores da PJ faziam buscas a empresários e aproveitavam para furtar bens
Polícia Judiciária deteve dois homens, um com 48 anos e outro com 54 anos, residentes em Paredes e em Viana do Castelo, que já foram presentes a juiz e ficaram em prisão preventiva.
A Polícia Judiciária (PJ) deteve dois presumíveis autores dos crimes de burla qualificada, associação criminosa, usurpação de funções e contrafacção de documentos, que se faziam passar por inspectores da PJ na zona norte do país.
Segundo fonte da PJ, os suspeitos abordavam empresários da região, que sabiam ter bens e dinheiro em sua posse na sequência das investigações prévias que costumavam fazer, e simulavam buscas judiciais no âmbito de processos em investigação. Os suspeitos apresentavam-se munidos de mandados falsificados, o que tornava credível a abordagem.
Não usavam de violência, eram cordiais, explicavam que estavam em causa investigações relacionadas com processos de suspeitas de fraude fiscal ou de crime de usura, envolvendo empréstimo de dinheiro a juros elevados, segundo a mesma fonte da PJ.
Em alguns casos, quando as vítimas pretendiam chamar alguém, nomeadamente outra autoridade, os burlões retiravam-lhes os telemóveis, alegando estar em curso uma investigação.
No final das buscas faziam apreensões de bens e dinheiro, tal como a PJ costuma fazer. “Já na posse dos bens, estes indivíduos diziam às pessoas que iam verificar se aqueles bens ou valores teriam alguma coisa que ver com o objecto da investigação e que, se não fosse o caso, iam falar com os superiores para poderem devolvê-los naquele dia. Atenção que a única pessoa que pode autorizar tal coisa é um juiz e os inspectores da PJ nunca podem dizer isso. Os inspectores limitam-se a cumprir o que está nos mandados”, ressalvou a mesma fonte.
A PJ sublinha que este modus operandi pode ser uma forma de as pessoas perceberem se foram alvo de burla ou não, porque suspeita-se que estes indivíduos possam ter feito mais vítimas e que as mesmas ainda não saibam disso. A PJ sabe que actuaram, por exemplo, nas zonas de Barcelos, Fafe, Santa Maria da Feira e Paredes.
Antecedentes criminais
Um dos casos que chegaram ao conhecimento da PJ ocorreu no dia 25 de Junho, quando um grupo de homens se dirigiu a uma residência, em Fafe, pelas sete horas da manhã, onde habita um empresário e respectiva família, pretendendo dar cumprimento a uma busca domiciliária. “Munidos de autorizações judiciais contrafeitas e devidamente equipados com coletes, crachás e indumentária característica da PJ, evidenciando algum profissionalismo e confiança na suposta diligência, os homens iniciaram a busca, apreendendo objectos em ouro, relógios, documentos e dinheiro, cujo valor ultrapassou os 100 mil euros. Efectuaram procedimento semelhante numa das empresas da vítima, arrecadando mais dinheiro”, relata a PJ.
Porém, com o início da investigação por parte do Departamento de Investigação Criminal de Braga da PJ, e a consequente partilha de informações com a Directoria do Norte da Polícia Judiciária e com a Guarda Nacional Republicana, vieram a ser contabilizados episódios análogos em vários concelhos da zona norte do país, que se foram sucedendo nas semanas seguintes. O desenvolvimento da investigação permitiu identificar os suspeitos que, “de forma organizada e recorrendo a meios propositadamente angariados para a prática dos crimes, apresentam um vasto passado criminal, tendo já sido condenados e cumprido penas de prisão”.
“Com a investigação inicialmente titulada pelo DIAP de Fafe e posteriormente pelo DIAP de Guimarães, realizaram-se diversas diligências de investigação, designadamente com utilização de meios especiais de obtenção de prova, cumprindo-se ainda buscas domiciliárias e não domiciliárias”, informou a PJ, que deu também conta que“foi possível assim recuperar cerca de 30 mil euros em dinheiro, relógios, ouro, moeda estrangeira, viaturas, crachás, coletes e documentos de identificação contrafeitos alusivos à Polícia Judiciária”.
Os detidos, dois homens, de 48 e 54 anos, residentes em Paredes e em Viana do Castelo, já foram presentes às autoridades competentes para interrogatório judicial e o juiz decidiu que ficariam em prisão preventiva.
A operação teve o nome “Faux Javert”, numa alusão ao inspector Javert, que é uma das personagens principais do romance Os Miseráveis, de Victor Hugo.