Não jogue fora aquele tênis furado

Ele pode estar na moda. Jovens mostram sua preocupação com o planeta, ensinando todos nós a consumir menos .

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Em seu perfil do Instagram, @sabrina.sustainable.life, a americana Sabrina Pare conta que veste suas roupas até ficarem velhas e depois as transforma em pano de chão, não compra um novo shampoo até o que tem no banheiro acabar e dá receitas de como usar o que está na geladeira para fazer o jantar. Ela também mostra seus copos desemparelhados, conta como corta os invólucros de cremes e protetores solares para aproveitá-los até o fim e ainda explica como cuidar de equipamentos de cozinha para que durem mais. Sabrina, que entrou em um desafio para ficar um ano sem comprar roupas e sapatos, tem 63 mil seguidores.

Com 111 mil seguidores, Christina Mychaskiw (@Christina.mychas) era viciada em compras e teve que lidar com dívidas por um bom tempo. Hoje, ensina às pessoas como consumir menos e manter o equilíbrio financeiro. De um jeito muito bacana, ela mostra, por exemplo, que muitas vezes você não precisa comprar roupas novas para conseguir um look parecido com os dos anúncios. Basta “fazer as compras dentro do seu próprio armário”. Já a dinamarquesa Gittemarie Johansen costuma mostrar aos 107 mil seguidores do seu perfil @gittemary como consertar móveis e reutilizar produtos de cozinha, entre várias outras coisas, além de explicar por que nossas ações individuais a favor da sustentabilidade contam.

Essas jovens são apenas alguns exemplos de uma nova moda que vai totalmente contra o estímulo ao consumismo que vemos nas redes sociais. Oposta à ostentação de influencers que passam a vida na frente das câmeras desembalando produtos e desfilando com o que acabaram de adquirir, a onda tem o nome pomposo de “underconsuption core”, mas quer dizer apenas que os adeptos compram menos, procuram utilizar o que já têm e adoram dar nova utilidade a coisas usadas.

Ah, mas isso é modinha de rico que tem dinheiro para gastar, porque quem é pobre já não pode comprar coisas novas. Será? O que mais se vê por aí é gente endividada por comprar no crediário e gastar mais do que pode e deveria.

Moda ou não, a tendência tem tudo a ver com a sustentabilidade e pode ser uma boa notícia para o planeta. É só caminhar por uma feira de produtos chineses ou qualquer loja de souvenirs de uma cidade turística, como Lisboa, para perceber que o mundo tem muito mais coisas do que a humanidade necessita ou seria capaz de usar. E mais e mais são confeccionadas todos os dias! Eventualmente, esses produtos, roupas, móveis, eletrônicos e todo o resto acabam nos lixões. E não temos mais onde colocar lixo.

Existe uma região do Deserto do Atacama, no Chile, que todos os anos recebe cerca de 60 mil toneladas de roupas descartadas de lojas de fast fashion. Muitas delas ainda com a etiqueta. Depois da indústria do petróleo, a da moda é considerada uma das mais poluentes do mundo. A Organização das Nações Unidas estima que seja responsável por 8% dos gases de efeito estufa e 20% do desperdício de água mundiais. Imagine que apenas para produzir aquela calça jeans com a qual você está sonhando são gastos 7.500 litros de água! Pior, peças de poliéster, por exemplo, demoram 200 anos para se desintegrar e, no processo, ainda deixam pelo caminho um monte de microplásticos prejudiciais à saúde.

Concordo 100% com essa moda. Todas as vezes que vejo um anúncio com um vestido lindo ou uma calça perfeita e bate aquela vontade de comprar, paro, respiro e penso: “Será que, neste momento, eu preciso mesmo de mais alguma coisa ou estou apenas entediada?” Em geral, não preciso de nada. Então, não compro e me sinto muito bem, porque além da supereconomia de dinheiro, sei que consumir menos ajuda a salvar o planeta. Da próxima vez que o dedinho coçar em frente a um anúncio das redes sociais, vá tomar uma água ou dar uma caminhada antes de finalizar a compra. Talvez você perceba que pode ser muito feliz sem mais uma coisa desnecessária a entulhar a casa.

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