Batucada do Santo une sagrado e profano contra a intolerância religiosa

Evento está dividido em duas partes. Nesta quinta-feira, haverá roda de conversa com pais de santo e integrantes da Igreja Católica. No sábado, passeata pela paz sairá do Rossio.

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Eventos vão reunir representantes de religiões de matrizes afro-brasileiras na Igreja de Santo António Nuno Ferreira Santos
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O sagrado e o profano vão celebrar a paz em dois eventos em Lisboa. O primeiro, nesta quinta-feira (19/09), com a Batucada do Santo, o segundo, no sábado, com uma passeata que sairá do Rossio e seguirá até a Igreja de Santo António, padroeiro da cidade. Representantes da igreja católica e de religiões de matriz afro-brasileira, de mãos dadas, deixarão claro que não há espaço para a intolerância e que todos têm a liberdade de expressar a sua fé sem medo, sempre respeitando as opiniões alheias.

A Batucada do Santo inclui a roda de conversas Caminhos Transatlânticos no Culto a Santo António, na sede do Museu de Santo António, às 18h, com a participação de pais de santo e de integrantes da Igreja Católica. O evento ecumênico tem como missão mostrar que não há barreiras entre as religiões e entre aqueles que pensam diferente. Santo António, no candomblé, é conhecido como Ogum. “Esse tipo de diálogo tem como objetivo combater a intolerância religiosa, o racismo e a xenofobia”, diz Adélia Pauferro, uma das idealizadoras dos eventos. “Há espaço para todos expressarem sua fé”, complementa.

No museu de Santo António está em exposição a mostra Diálogos de Fogo: Exú, Ogum e Xangô — Santo António na Mitologia Afro-Brasileira, com fotos do baiano Edgar de Souza. O material, segundo ele, foi produzido durante o Bembé do Mercado, considerado o maior candomblé de rua do mundo, realizado periodicamente no Mercado de Santo Amaro, em Santo Amaro da Purificação, terra de Caetano Veloso e Maria Bethânia.

“Retratamos, na exposição, todos os orixás. A mostra já percorreu Paris, Luanda e Nova York”, afirma o fotógrafo, que vê a liberdade religiosa como fundamental para qualquer sociedade. “Há espaço para todos, desde que prevaleça o respeito. Ninguém é dono da fé de ninguém. Infelizmente, vivemos tempos estranhos, de desrespeito e intolerância”, ressalta.

Madrinha da Batucada, a empresária baiana Carolina Brito, dona de dois restaurantes em Lisboa de culinária baiana, assinala a importância de se desvendar as religiões afro-brasileiras em Portugal. “Não podemos esquecer que, durante séculos no Brasil, a Igreja Católica obrigou a população negra a se batizar e a seguir os preceitos de Roma, numa clara tentativa de apagar o candomblé e a umbanda. Felizmente, as religiões de matrizes africanas sobreviveram”, diz ela, mais conhecida como Carol do Acarajé. Atualmente, há casos de terreiros de candomblé e de umbanda sendo destruídos no Brasil pelos intolerantes.

Festa bonita e doações

No sábado (21/09), a Batucada do Santo ocupará as ruas de Lisboa. A passeata sairá do Rossio às 13h, seguindo até a Igreja de Santo António. O cortejo terá a participação do Bloco Sardinhas Nômades, da cantora Negra Jaci e do músico português Nuno Flores. “Será uma festa bonita, focada na paz, com importantes demostrações da cultura brasileira, da maior comunidade de imigrantes em Portugal”, afirma Bel Menezes, uma das idealizadoras do bloco. “Pretendemos, com eventos como esse, aprofundar a integração da nossa comunidade e celebrar a ancestralidade, sem espaço para o preconceito”, acrescenta.

A perspectiva é de que um novo capítulo dessa festa ocorra em breve na Fábrica Braço de Prata, com uma feira de gastronomia e muita música. A entrada será gratuita, mas aqueles que quiserem poderão fazer doações de itens considerados essenciais pelos bombeiros que estão na linha de frente do combate aos incêndios em Portugal. O Corpo de Bombeiros precisa de produtos de higiene, toalhas úmidas, cremes para queimaduras, água, biscoitos, bananas não maduras, barras de cereais e bebidas energéticas. “Temos certeza de que todos vão contribuir”, acredita Adélia.

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