Farage vai deixar de ser proprietário e accionista do partido de direita radical Reform UK

O terceiro partido mais votado nas últimas eleições legislativas britânicas foi registado como uma empresa privada em 2018. Sexta-feira e sábado reúne-se em congresso para adoptar novos estatutos.

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Nigel Farage, líder do Reform UK, foi eleito deputado nas últimas eleições, realizadas em Julho REUTERS/Belinda Jiao
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Na véspera do arranque do primeiro congresso do Reform UK desde que obteve 14% nas eleições legislativas britânicas, realizadas em Julho, e elegeu cinco deputados para a Câmara dos Comuns, o seu líder, Nigel Farage, anunciou que vai deixar de ser proprietário e accionista do partido de direita radical e populista.

“Já não preciso de ter o controlo do Reform [e], por isso, vou renunciar a todas as minhas acções”, disse Farage à BBC, nesta quinta-feira, explicando que vai transferir “a propriedade do partido e as grandes decisões para os militantes”, mas esclarecendo que se vai manter como líder e deputado.

Ao contrário da grande maioria dos partidos políticos do Reino Unido, o Reform foi registado como uma empresa privada em 2018, na altura com o nome “The Brexit Party Limited”.

Segundo Farage, essa opção foi tomada para facilitar e acelerar o processo de candidatura do então Partido do Brexit às eleições de 2019 para o Parlamento Europeu – que venceu, defendendo a saída do Reino Unido da União Europeia. O antigo líder de outro partido populista, o ultranacionalista e anti-imigração UKIP, admitiu, no entanto, que o registo do Reform como empresa também se justificou para o “impedir de ser sequestrado por pessoas más”.

Já depois de ter mudado de nome de Partido do Brexit para Reform UK – ou “Reform UK Party Limited”, segundo o registo oficial –, durante a pandemia de covid-19, e trocado o eurocepticismo pela oposição aos confinamentos, Farage passou a liderança política do partido ao empresário milionário Richard Tice, assumindo o cargo de simbólico de “presidente honorário”.

Por ser o principal accionista da empresa e por não ter de responder aos militantes, recuperou-a, no entanto, a um mês das últimas eleições legislativas e foi como líder do Reform – hoje um partido de direita radical, neoliberal, populista e anti-imigração muito semelhante a outras plataformas partidárias europeias da mesma família política – que conseguiu ser eleito para a Câmara dos Comuns, pelo círculo inglês de Clacton-on-Sea.

Os cinco deputados eleitos e os quatro milhões de votos obtidos pelo Reform UK nas eleições de Julho, vencidas pelo Partido Trabalhista, levaram Farage a concluir que precisa agora de uma estrutura e de uma militância activa se quiser continuar a disputar o eleitorado da direita com o Partido Conservador ou, como ele promete, a substituir os tories como principal oposição ao Governo.

Nesse sentido, o congresso que se realiza na sexta-feira e no sábado na cidade inglesa de Birmingham vai servir para a votação e adopção de novos estatutos, de uma série de regras relativas às competências, aos deveres e aos direitos dos militantes e de mecanismos de responsabilização e de escrutínio da liderança.

Segundo Zia Yusuf, presidente do Reform, o número de militantes inscritos supera os 80 mil, incluindo cerca de 15 mil que se filiaram no partido desde as eleições.

Uma das moções que vai a votos propõe a possibilidade de convocatória de uma moção de desconfiança ao líder do Reform se 50% dos seus militantes ou se 50% dos seus deputados eleitos para Câmara dos Comuns formalizarem um pedido nesse sentido.

No que toca aos deputados, a moção esclarece, porém, que a regra para desafiar a liderança só se aplica se houver mais de 100 parlamentares, um número significativamente elevado, tendo em conta a actual bancada do Reform na câmara baixa do Parlamento britânico.

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