Tupperware avança para a insolvência e quer “proteger a sua marca icónica”

Empresa quer continuar em operações enquanto prepara processo de venda para “proteger a sua marca icónica”. Futuro da fábrica de Constância ainda é incerto.

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A fábrica da Tupperware em Constância emprega cerca de 200 pessoas Miguel Manso
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Já era um desfecho anunciado, mas nem por isso deixa de surpreender quem se habituou à presença das caixas plásticas coloridas para armazenamento de alimentos e bebidas nas mais diversas formas e feitios, nos mais diversos momentos do quotidiano: a Tupperware Brands avançou esta semana com o processo formal de insolvência nos Estados Unidos e vai tentar encontrar um comprador para impedir o fim da empresa.

A gestão quer iniciar um processo de venda da empresa, “a fim de proteger a sua marca icónica” e transformar esta companhia com cerca 80 anos de história “numa empresa digital e tecnológica”. Em comunicado, a empresa presidida por Laurie Ann Goldman explica que “procurará obter a aprovação do tribunal para continuar a operar durante o processo” e garante que “continua concentrada em fornecer aos seus clientes os seus produtos premiados e inovadores através de consultores de vendas Tupperware, parceiros retalhistas e online”.

De acordo com a informação enviada ao regulador do mercado norte-americano (SEC) as empresas do universo Tupperware (um nome que passou a usar-se de forma generalizada para identificar qualquer recipiente de plástico destinado a guardar alimentos) procurarão “continuar a operar os seus negócios” e a “pagar salários aos trabalhadores” e bens e serviços a vendedores e fornecedores, enquanto, em simultâneo, se inicia “um processo de venda”, acompanhado por um administrador judicial.

Em Portugal, a notícia tem mantido em sobressalto os cerca de 200 trabalhadores da fábrica que a empresa tem em Montalvo, Constância. O presidente da Câmara de Constância, Sérgio Oliveira, disse à Lusa que já pediu à empresa informações sobre o futuro da unidade de Montalvo (a Tupperware – Indústria Lusitana de Artigos Domésticos, Lda), em funcionamento desde 1980.

O Ministério da Economia adianta que “o Governo está a acompanhar o desenvolvimento da situação da empresa nos EUA e não deixará de o fazer relativamente à situação da empresa em Portugal”.

Em Novembro de 2022, o site Mediotejo.net já dava conta da dispensa de cerca de 100 trabalhadores temporários na fábrica de Montalvo e da abertura de um processo de rescisões amigáveis, na sequência de uma “quebra muito acentuada” de encomendas.

Desde a semana passada, quando se tornou evidente o sufoco financeiro da Tupperware, as acções caíram a pique na praça norte-americana. Passaram dos 1,20 dólares do fecho na sexta-feira 13 de Setembro, para 0,51 dólares na segunda-feira, 16 de Setembro, data em que foram suspensas. Neste momento, a empresa tem um valor de mercado próximo de 23 milhões de dólares (cerca de 20,6 milhões de euros).

Segundo a Reuters, a Tupperware, que tem uma dívida de 812 milhões de dólares, reportou ao tribunal de insolvência activos num valor entre 500 milhões e mil milhões de dólares e passivos estimados entre mil e dez mil milhões de dólares. O número de credores situa-se entre os 50 mil e os 100 mil.

Com um modelo de negócio que ainda assenta, em boa parte, em vendas feitas por representantes individuais da marca nas chamadas “festas Tupperware”, que se popularizaram a partir da década de 50 do século passado, a empresa foi confrontada nos últimos anos com quebras de vendas, das quais não conseguiu recuperar.

As contas de 2022 (as últimas divulgadas no site da companhia) demonstram uma quebra de 18% das vendas, para 1,305 mil milhões de dólares, e um prejuízo de 28,4 milhões de dólares.

“Nos últimos anos, a posição financeira da empresa foi severamente afectada por um ambiente macroeconómico difícil. Como resultado, explorámos várias opções estratégicas e determinámos que este [da insolvência] é o melhor caminho a seguir”, refere o comunicado da Tupperware, citando a presidente executiva, Laurie Ann Goldman, em funções desde Outubro de 2023.

“Este processo destina-se a proporcionar-nos a flexibilidade essencial à medida que procuramos alternativas estratégicas para apoiar a nossa transformação numa empresa digital e tecnológica mais bem posicionada para servir os nossos accionistas”, acrescentou a nota.

Criada nos anos 40 pelo químico Earl S. Tupper, a empresa, com sede em Orlando, na Florida, tem hoje “mais de 8500 patentes registadas de produtos para cozinha e uso doméstico” e produtos à venda em 70 países.

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