Corais da Florida viajam para o Texas para crescerem e se multiplicarem

Projecto de restauro nos Estados Unidos quer criar linha genética de coral chifre-de-veado da Florida como defesa contra efeitos das alterações climáticas.

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Investigadores seleccionam corais no campus oceanográfico da Universidade Nova do Sudeste, em Dania Beach, na Florida DR

Cerca de 300 corais marinhos foram transferidos de um berçário no campus oceanográfico da Universidade Nova Southeastern (NSU, na sigla em inglês), no Sul da Florida, para a Universidade do Texas A&M – Corpus Christi, no golfo do México, para promover a investigação sobre como restaurar recifes de coral.

As instalações da NSU dedicadas à investigação da vida marinha servem de berçário para os corais, onde são guardados, tratados para recuperação e devolvidos ao oceano. Esta universidade da Florida tem partilhado os corais com outras instituições, como as universidades de Miami, a Florida Atlantic e a Estadual do Texas, bem como com a Fundação para a Restauração do Coral.

"Esta é uma oportunidade de investigação e de criação de uma linha geneticamente única de fragmentos de coral chifre-de-veado [Acropora cervicornis] que seja representativa de múltiplas regiões do Sudeste da Florida", disse o investigador da NSU Shane Wever, citado num comunicado de imprensa. "Fazer esta transferência de corais é criar mais uma camada de defesa das populações de corais chifre-de-veado da Florida contra as alterações climáticas", acrescentou.

Corais essenciais

Os recifes de coral são das regiões marinhas mais ricas em biodiversidade – cerca de um quarto das espécies marinhas vive em recifes de coral. As estruturas dos recifes têm a capacidade de ajudar a proteger as comunidades costeiras das ilhas que rodeiam contra ondas e tempestades, além de providenciarem recursos pesqueiros àquelas comunidades. Mas o aquecimento e a acidificação da água do mar representam perigos mortais para os corais.

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Coral chifre-de-veado Albert Kok

Apesar da importância dos corais, é fácil para as pessoas que vivem em terra esquecerem-se de quão fundamentais são as coisas que estão nos oceanos, afirma a investigadora Keisha Bahr, da Universidade Texas A&M – Corpus Christi.

"Os corais servem um grande número de propósitos diferentes", acentua Bahr. "Antes de mais, protegem a nossa linha costeira da energia das ondas e da erosão costeira. Também nos fornecem muitos dos alimentos provenientes dos oceanos. E são berço de uma grande quantidade de organismos", especifica.

Perdas a um "ritmo alarmante"

Temperaturas oceânicas extremamente elevadas causaram um branqueamento generalizado dos corais em 2023, destruindo-os nas Florida Keys, o arquipélago de ilhas tropicais no Sul da Florida.

Os investigadores da Texas A&M – Corpus Christi recorreram à NSU quando os seus parceiros nas Keys deixaram de conseguir fornecer corais para as suas investigações.

"Estamos a perder corais a um ritmo alarmante", disse Bahr. "Perdemos cerca de metade dos nossos corais nas últimas três décadas. Precisamos de garantir que vamos continuar a ter estas 'meninas' no futuro."

Recuperação pelo mundo

Em vários pontos do mundo têm sido criados projectos de recuperação de corais, e Portugal também. Por exemplo, o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Ciimar), em Matosinhos, vai liderar dois novos projectos de conservação e restauro de jardins de corais afectados pelas ondas de calor no mar Mediterrâneo, através da equipa de Jean-Baptiste Ledoux, cientista francês radicado em Portugal.

Trata-se de dois projectos diferentes, focados em espécies distintas (coral-vermelho e gorgónia-camaleão), mas com o mesmo objectivo: usar a genética populacional para proteger corais em áreas protegidas específicas do mar Mediterrâneo – tanto na região de Marselha, em França, como na Catalunha, em Espanha.

A bacia mediterrânica está particularmente ameaçada pela crise climática, uma vez que abriga vastos jardins de corais sensíveis ao calor e, simultaneamente, está a aquecer mais rapidamente do que outras regiões oceânicas.

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