Associação diz que há má gestão na referenciação de doentes para cuidados paliativos

As unidades de cuidados paliativos têm enfrentado uma taxa de ocupação de 50% a 80%, ainda que exista um número considerável de doentes referenciados que acabam por falecer antes de obter vaga.

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Há doentes que "pura e simplesmente" não são encaminhados para os cuidados paliativos, alega associação Adriano Miranda
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O presidente da Associação Nacional de Cuidados continuados (ANCC) considera que há "má gestão" e falta de articulação na referenciação de doentes para os cuidados paliativos, o que ajuda a explicar a baixa taxa de ocupação que afecta actualmente estas unidades.

"Eu penso que há uma má gestão e uma péssima articulação na forma como se referencia os doentes. Nós actualmente temos uma taxa de ocupação entre os 50 e os 80%. (...) Se a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI] não põe doentes, é porque não quer. E não põe porquê? É uma questão a que não sei responder", disse o responsável da ANCC, José Bourdain, em declarações à agência Lusa, à margem do Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados, realizado esta quarta-feira na Chamusca.

De acordo com Bourdain, as unidades de cuidados paliativos têm enfrentado uma taxa de ocupação entre os 50% e os 80%, ainda que exista um número considerável de doentes referenciados que acabam por falecer antes de obter vaga, tal como foi divulgado pelo relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS).

O relatório evidencia que quase metade (48%) dos doentes referenciados no ano passado para unidades de paliativos contratualizadas com o sector privado ou social morreram antes de ter vaga. José Bourdain afirmou que as unidades informam regularmente a RNCCI sobre as camas disponíveis, mas os doentes "pura e simplesmente não são encaminhados".

"Não há falta de comunicação da nossa parte, porque nós damos informação à rede quando temos as camas vazias", defendeu.

Por outro lado, explicou que as unidades de cuidados paliativos enfrentam "sérios prejuízos financeiros" quando a taxa de ocupação fica abaixo dos 85%, uma vez que os custos de manutenção permanecem os mesmos, independentemente do número de doentes.

"Quando a taxa de ocupação é inferior a 85%, os custos são exactamente os mesmos, como se as camas estivessem todas ocupadas. São custos muitos significativos que temos que suportar...", sublinhou.

Falhas na partilha de informação

O responsável da ANCC criticou os responsáveis políticos que "não ouvem os profissionais no terreno" e tomam decisões "sem o devido conhecimento" das realidades do sector. "Os secretários de Estado e os ministros da Saúde não entendem nada destes assuntos. Não nos ouvem, não nos percebem e não se dão ao trabalho de perceber", acusou.

Além das questões económicas, problemas antigos, como as falhas no sistema informático e a ausência de partilha de informações entre hospitais e unidades de cuidados continuados, "continuam a persistir" e "afectam a qualidade do serviço". "Muitas vezes um doente é encaminhado para os cuidados continuados sem raios X e sem análises clínicas porque os hospitais não fornecem estas informações aos profissionais de saúde de cuidados continuados. Há uma falta de articulação em toda a envolvência hospitalar", concluiu.

Na iniciativa, a ANCC propôs a criação de um grupo de trabalho entre o Governo e os representantes das unidades de cuidados integrados, para avaliar "os custos dos recursos humanos e os custos com bens e serviços" para, dessa forma, resolver o "problema de subfinanciamento" que afecta actualmente o sector.

Esta proposta foi apresentada no 1.º Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados, organizada pela Associação Nacional dos Cuidados Continuados para celebrar os 17 anos da rede nacional.