Zimbabwe quer abater 200 elefantes para alimentar pessoas com fome devido à seca

El Niño agravou seca no país africano, onde os elefantes também têm morrido devido à falta de água. “O Governo podia fazer outras coisas para amortecer os impactos da seca”, afirmou activista.

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Elefantes a beber água no Parque Nacional Hwange, em 2019, um do locais onde haverá abates no Zimbabwe Philimon Bulawayo/REUTERS
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O Zimbabwe planeia abater 200 elefantes para poder alimentar as comunidades que enfrentam uma fome aguda após a pior seca das últimas quatro décadas, disseram as autoridades responsáveis pela vida selvagem na terça-feira.

A seca, agravada pelo fenómeno climático El Niño destruiu as colheitas na África Austral. Foram afectadas 68 milhões de pessoas e há escassez de alimentos em toda a região.

Podemos confirmar que estamos a planear abater cerca de 200 elefantes em todo o país. Estamos a estudar as modalidades para o fazer, disse à Reuters Tinashe Farawo, porta-voz da Autoridade de Parques e Vida Selvagem do Zimbabwe (Zimparks). A carne de elefante será distribuída às comunidades do Zimbabwe afectadas pela seca, assegurou.

O abate, o primeiro autorizado no país desde 1988, terá lugar nos distritos de Hwange, Mbire, Tsholotsho e Chiredzi. Segue-se à decisão tomada no mês passado pela vizinha Namíbia de abater 723 animais selvagens, entre os quais 83 elefantes, para distribuir a carne às populações afectadas pela seca.

Estima-se que mais de 200.000 elefantes vivam numa área de conservação espalhada por cinco países da África Austral - Zimbabwe, Zâmbia, Botswana, Angola e Namíbia - o que faz com que a região albergue uma das maiores populações de elefantes do mundo. A seca está também a ameaçar a sobrevivência dos elefantes - animais que, quando adultos, precisam de 200 litros de água por dia. Mas simplesmente não há água.

Farawo disse que o abate também faz parte dos esforços do país para a gestão dos seus parques naturais, que só podem sustentar 55.000 elefantes. O Zimbabwe tem mais de 84.000 elefantes.

Os elefantes são protegidos por tratados internacionais, como a Convenção das Nações Unidas sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Extinção (CITES). São património da humanidade. Portanto, não se pode simplesmente decidir 'quero abatê-los'. Não são cabras, que uma pessoa pode dizer 'vou abater uma cabra e alimentar a minha família'. Há regras a cumprir, afirmou Farai Maguwu, do Centro de Gestão dos Recursos Naturais do Zimbabwe, citado pelo portal Voice of America.

No Governo de Harare sempre houve defensores de modificar essas regras, para poder abater elefantes, acrescentou Farai ​Maguwu. O Governo podia fazer muitas outras coisas para amortecer os impactos da seca, em vez de matar elefantes. Isto não devia ir para a frente, afirmou o responsável.

É um esforço para descongestionar os parques face à seca. Os números são apenas uma gota de água no oceano, porque estamos a falar de 200 (elefantes) e temos mais de 84.000, o que é muito, justificou à Reuters Tinashe Farawo.

A pressão do crescimento demográfico humano, que avança sobre o habitat dos elefantes, é cada vez maior. Apesar de continuarem a existir em África cerca de 18 milhões de quilómetros quadrados que constituem um habitat adequado para elefantes, devido à pressão humana, essa distribuição geográfica é apenas 17% daquilo que poderia ser, concluiu um estudo publicado na revista Current Biology em 2021.

Com uma seca tão grave, os conflitos entre humanos e animais selvagens podem aumentar, à medida que os recursos se tornam mais escassos. No ano passado, morreram 50 pessoas no Zimbabwe devido a ataques de elefantes.

O país, que é elogiado pelos seus esforços de conservação e pelo aumento da sua população de elefantes, tem feito pressão junto da CITES para reabrir o comércio de marfim e de elefantes vivos. Com uma das maiores populações de elefantes, o Zimbabwe tem cerca de 600.000 dólares de reservas de marfim apreendido que não pode vender.