Protesto pela floresta exige “fim do ciclo de incêndio e morte”

Agendada para vários pontos do país, mobilização no domingo é contra os incêndios agravados pela crise climática e a “devastação da indústria do papel e celulose, da biomassa e da bioenergia”.

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Incêdios devastam vários pontos do país, sobretudo na região Centro, com forte impacto no distrito de Aveiro Rui Oliveira
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Um grupo de cidadãos agendou um protesto para este domingo, às 17h, em diversos municípios portugueses, contra “a catástrofe social, climática e política que representa um país permanentemente em risco de chamas”. Intitulada “O país arde, temos de acordar”, a mobilização tem como objectivo exigir “o fim do ciclo de incêndio, morte, pobreza e desertificação”, reafirmando a urgência de um novo modelo de gestão e exploração florestal.

Um comunicado refere que estão agendadas acções em cidades e vilas como Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Odemira, Pedrógão Grande, Torres Novas, Vila Nova de Poiares e Arganil. Os organizadores exortam os habitantes de outras localidades do país a criarem grupos e reunirem-se à mesma hora, a exemplo do que ocorreu no protesto homólogo organizado em Setembro de 2023.

O protesto do ano passado contou com um texto de convocação, assinado por mais de 50 pessoas, incluindo o biólogo Jorge Paiva, o activista e investigador em alterações climáticas João Camargo e o engenheiro silvicultor Paulo Pimenta de Castro.

“Este é um movimento amplo de cidadãos, muitos deles ligados à ciência, que possuem grupos regionais autogeridos e que entendem que este é o momento de acordar o país e mostrar que a floresta do futuro é possível. Temos de fazer pressão enquanto o país está sensibilizado para a grave questão dos incêndios”, explica ao PÚBLICO o porta-voz Fernando Amaral, que pretende organizar um protesto em Vila Nova de Poiares, onde continua a viver após ter perdido a casa nos trágicos fogos de 2017.

Ainda hoje, Fernando Amaral diz sentir impressão “quando ouve ao longe as sirenes dos carros de bombeiros”. Segundo este antropólogo de 48 anos, que não contou com apoio psicológico, o stress pós-traumático persiste anos depois do incêndio que consumiu a casa e o que lá tinha dentro, “incluindo milhares de euros em livros”. Foi esta experiência que fez dele, garante, um activista ambiental.

Abandono do mundo rural

No coração do protesto “O país arde, temos de acordar” está uma manifestação de repúdio contra os incêndios que assolam o país e que, refere o documento enviado ao PÚBLICO, constituem um retrato de “um meio rural entregue ao abandono e à ganância da indústria das celuloses e da fileira do eucalipto”.

“O fogo que mata bombeiros e trabalhadores nos campos, que destrói casas e infra-estrutura essencial para as comunidades é acompanhado pelo fumo que intoxica e não nos deixa respirar em nenhuma parte do país. Sofremos sob o peso da destruição do mundo rural, do abandono, da eucaliptização, das espécies invasoras, dos cortes dos serviços de protecção e vigilância”, refere Guida Marques, organizadora em Arganil, citada na nota de imprensa.

O comunicado frisa que é hora de “acordar e agir enquanto é tempo, para construir uma verdadeira floresta do futuro”, cujo domínio tem de ser “arrancado às mãos da indústria do eucalipto e da biomassa”.

“Temos de transformar a mistura explosiva de eucaliptal, pinhal e invasoras em verdadeira floresta e bosques resilientes, que aguentem o futuro mais quente, que travem o deserto e promovam uma regeneração digna do interior do país”, exortam os organizadores na nota de imprensa.

Notícia actualizada a 19/9/24 às 8h57