Lucília Gago insiste em declaração polémica sobre maternidade

Num discurso no CEJ, insistiu na questão do peso das ausências ao serviço decorrentes de licenças de maternidade, declaração que causou alguma polémica após a sua audição no Parlamento.

Foto
Lucília Gago foi ouvida pelos deputados no Parlamento no passado dia 11 de Setembro FILIPE AMORIM / LUSA
Ouça este artigo
00:00
02:38

A procuradora-geral da República (PGR), Lucília Gago, assumiu que o seu tempo à frente do Ministério Público (MP) chegou ao fim e assegurou que a prioridade do seu mandato foram sempre os resultados. E insistiu na questão do peso das ausências ao serviço decorrentes de licenças de maternidade no quadro de magistrados declaração que causou alguma polémica após a sua audição no Parlamento.

"O meu tempo esgotou-se e o que foi feito, feito está, com honestidade intelectual e sem alarde, tendo como único foco os resultados. Melhorar os resultados. Sem aparato, com discrição. Como sempre fui, como sempre quis que fosse", disse a PGR, num discurso proferido na segunda-feira na abertura do 41.º curso de formação de magistrados para os tribunais judiciais e do 11.º curso de formação de juízes para os tribunais administrativos e fiscais.

Na cerimónia realizada no Centro de Estudos Judiciários (CEJ), em Lisboa, Lucília Gago assumiu que esta seria, provavelmente, a sua "última intervenção pública" e, perante os formandos, admitiu que estavam "nos antípodas da experiência e da vibração contagiante do entusiasmo", depois de ter iniciado o seu percurso como PGR em Outubro de 2018.

Lucília Gago recordou a audição na Assembleia da República na semana passada e reiterou uma ideia que suscitou controvérsia, ao frisar os constrangimentos na magistratura do MP pelo número significativo de mulheres entre os procuradores mais jovens, aludindo a um elevado número de ausências por razões de natalidade. No entanto, para a PGR, as suas palavras não representaram uma desvalorização dos direitos das mulheres.

"Sente-se com acuidade o peso das ausências ao serviço decorrentes de licenças de maternidade ou outros ponderosos motivos inerentes a essa condição, gerando objectivamente constrangimentos adicionais na gestão dos recursos humanos. Desta afirmação que então se fez e que se mantém não se retira a mínima colisão com a consideração como adequados e justos dos direitos correspondentes há muito legalmente consagrados", referiu.

A PGR insistiu também que o quadro actual de magistrados é deficitário, com os 1738 procuradores reflectidos pelos dados estatísticos a reduzirem-se para 1630 em funções efectivas. Essa redução deve-se à inclusão no primeiro valor de magistrados em regime de estágio, às situações de ausência prolongada e aos elementos em comissão de serviço.

Sublinhou ainda "o acréscimo de competências e atribuições do Ministério Público e as crescentes necessidades de especialização, a par com a existência de elevado nível de risco de burnout dos respectivos magistrados".

Por outro lado, repetiu a crítica à falta de avanços na criação de um polo do CEJ na região norte, que permitiria, no seu entender, aumentar os níveis de recrutamento para a carreira.