Suspeito de tentativa de assassínio passou 12 horas escondido à espera de Trump

Serviço Secretos dos EUA admite que não tinha revistado o perímetro do campo de golfe de Palm Beach. Suspeito nunca teve o ex-Presidente norte-americano na sua linha de visão.

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O director interino do Serviço Secreto, Ronald Rowe, na conferência de imprensa de segunda-feira Marco Bello / REUTERS
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Ryan Wesley Routh, suspeito do que o FBI diz "parecer ser uma tentativa de assassínio do antigo Presidente" dos Estados Unidos Donald Trump, passou 12 horas escondido entre os arbustos e as palmeiras que rodeiam o perímetro do campo de golfe do candidato republicano em Palm Beach, na Florida.

Ronald Rowe, director interino do Serviço Secreto — a agência responsável pela segurança dos Presidentes dos Estados Unidos e candidatos à Casa Branca —, admitiu que os agentes não revistaram o campo onde Trump joga com frequência, apenas dois meses depois de o ex-Presidente ter escapado a um atirador num comício na Pensilvânia.

Segundo Rowe, Trump "nem sequer era suposto ir lá" no domingo, o que obrigou os agentes a elaborar um plano de segurança à última hora. De acordo com o FBI, que assumiu a investigação, Routh chegou ao local às 1h59 da madrugada de domingo e escondeu-se do lado público da vedação. Para além de uma espingarda semiautomática do tipo SKS (com um alcance de quase 450 metros) e de uma mira com ampliação, tinha consigo duas câmaras digitais numa mochila e um saco preto com comida.

Apesar de ter conseguido manter-se no mesmo sítio sem ser detectado até às 13h30 da tarde de domingo (18h30 em Portugal continental), o atirador nunca chegou a ter Trump na sua linha de visão. Quando um agente, que seguia 300 metros à frente do candidato republicano, avistou o cano da espingarda entre os arbustos e disparou, Routh estava a uma distância de 270 a 460 metros de Trump.

"Ele não disparou, não fez nenhum disparo contra o nosso agente", afirmou Rowe na segunda-feira à noite. "Com o som dos tiros, a equipa de protecção próxima do ex-Presidente retirou-o de imediato para um local seguro."

O suspeito ainda conseguiu largar a arma, a mochila e o saco, e fugir no seu próprio carro, mas uma testemunha tirou uma fotografia da matrícula e Routh foi detido 40 minutos depois, sem oferecer resistência. Depois de uma primeira audiência judicial, foi acusado de dois crimes federais de posse ilegal de arma de fogo. Ficou detido até à próxima audiência, para a semana, e pode vir a ser acusado de outros crimes.

Aparecendo pela primeira vez em público desde o incidente, Trump agradeceu ao Serviço Secreto. "Toda a gente fez um óptimo trabalho", afirmou. "Entrámos nos carrinhos e avançámos muito bem" logo depois de se ouvirem os disparos, descreveu. "Eu estava com um agente e o agente fez um trabalho fantástico", disse ainda, durante o lançamento de uma plataforma de criptomoeda dos seus filhos, transmitido em directo na rede social X.

O ex-Presidente dos EUA também elogiou a testemunha que fotografou a matrícula do carro usado na fuga: "O civil fez um trabalho fenomenal", disse.

Routh, de 58 anos, um crítico das posições de Trump sobre a guerra da Ucrânia, foi pela primeira vez notícia em 1991, quando travou a fuga de um suspeito de ter violado uma mulher, na Carolina do Norte, onde nasceu. Onze anos depois seria detido por posse ilegal de arma. Em 2023, foi citado num artigo do diário The New York Times onde explicava estar a promover uma campanha para recrutar combatentes que fugiram dos taliban (que dois anos tinham reconquistado o poder no Afeganistão) para irem para a Ucrânia combater contra a Rússia.

Nos últimos anos, publicou várias mensagens nas redes sociais onde acusava Trump de ser "uma ameaça à democracia".

"Bem, há muita retórica, muitas pessoas pensam que os democratas, quando falam de 'uma ameaça à democracia' e tudo isso, e parece que estas duas pessoas eram de esquerda radical", afirmou Trump, questionado sobre as duas tentativas de assassínio que sofreu durante esta campanha. O Presidente dos EUA, Joe Biden — que, segundo a Casa Branca, telefonou a Trump para lhe transmitir "o seu alívio por ele estar em segurança" — “não podia ter sido mais simpático”, acrescentou o candidato.

Antes, já sugerira que a responsabilidade das duas tentativas é dos líderes do Partido Democrata: "A retórica deles está a fazer com que disparem contra mim, quando eu sou o único que vai salvar o país e são eles que estão a destruir o país", disse ao site da Fox News. Também na segunda-feira, o ex-Presidente dos EUA voltou a atacar a sua rival, Kamala Harris: "Não podemos ter uma Presidente comunista marxista", afirmou, na apresentação transmitida no antigo Twitter.

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