Francês que sedava a mulher para ser violada por outros homens falou em tribunal: “Sou um violador.”

Dominque Pélicot falou pela primeira vez em tribunal. Admitiu todas as acusações e pediu perdão à família. “Sou um violador como todos os outros que estão nesta sala.”

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Gisele Pélicot, com os seus advogados Stephane Babonneau e Antoine Camus, à chegada nesta terça-feira ao tribunal de Avignon GUILLAUME HORCAJUELO / EPA
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Acusado de sedar a agora ex-mulher, Giséle Pélicot, e de recrutar durante uma década dezenas de desconhecidos para a violarem, Dominique Pélicot, francês de 71 anos, admitiu, nesta terça-feira em tribunal, a sua culpabilidade nas várias acusações que enfrenta e pediu perdão à família.

O septuagenário deveria ter testemunhado na semana passada pela primeira vez, mas a sua audiência foi adiada devido a problemas de saúde. Chegou ao tribunal em Avignon, no Sul de França, com uma bengala.

“Admito todas as acusações”, declarou, segundo a Reuters, que cita a BFM TV. “Sou um violador como todos os outros que estão nesta sala... Peço à minha mulher, aos meus filhos e aos meus netos que aceitem as minhas desculpas. Arrependo-me do que fiz. Peço-vos perdão, mesmo que isto seja imperdoável”, disse, segundo a imprensa francesa.

Num caso que tem abalado o país, Dominique Pélicot está a ser julgado pelos crimes de violação, violação colectiva e vários crimes de violação de privacidade por gravar e divulgar imagens sexuais.

Em tribunal, por vezes em lágrimas, disse que tinha tido uma educação difícil e que ele próprio fora vítima de violação.

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Dominique Pélicot retratado durante o julgamento REUTERS/ZZIIGG

Giséle Pélicot, de 72 anos, esteve na sala de audiências durante o depoimento. “Durante 50 anos, vivi com um homem que nunca imaginei que fosse capaz destes actos de violação”, disse, em declarações aos jornalistas. ”É difícil ouvir da boca dele o que acabou de dizer.”

Durante uma pausa nos trabalhos, a advogada de Dominique Pélicot, Beatriz Zavarro, disse à imprensa que “todos os factos serão examinados no que toca a todos os acusados e cada um formará a sua própria opinião”.

Os procuradores afirmam que Dominique Pélicot, que foi detido numa mercearia quando tentava filmar por baixo das saias de mulheres, ofereceu sexo com a sua mulher num site chamado Coco e filmou os abusos. Os investigadores encontraram 300 fotografias e vídeo dos actos, segundo um documento do tribunal. Uma pasta intitulada “abusos” continha 20 mil ficheiros, de fotografias e vídeos, da mulher a ser violada por dezenas de homens.

Outros 50 homens, com idades entre os 26 e os 73 anos, estão a ser julgados pelo crime de violação agravado. Alguns afirmam que pensavam que Giséle Pélicot fingia estar a dormir e que consentia nas relações sexuais, embora Dominique Pélicot tenha contestado as declarações nesta terça-feira. Se forem considerados culpados, podem ser condenados a 20 anos de prisão.

Giséle Pélicot insistiu num julgamento público para expor o ex-marido e os outros arguidos de forma a alertar para a violência sexual e os perigos da submissão química. Para muitos, tornou-se um símbolo da luta contra a violência sexual em França. No sábado, centenas de pessoas, sobretudo mulheres, concentraram-se em cidades de todo o país para lhe demonstrarem o seu apoio.