Incêndios: condições meteorológicas são das mais severas dos últimos anos, diz IPMA

Anticiclone situado por cima das ilhas britânicas trouxe massa de ar quente e seca para o litoral Centro e Norte do continente, facilitando muito a propagação dos incêndios vividos naquelas regiões.

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Incêndio em Águeda, no distrito de Aveiro PAULO CUNHA/LUSA
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Os incêndios dos últimos dois dias que têm afectado em particular as regiões do Norte e Centro de Portugal continental foram exacerbados por condições meteorológicas “extremas”, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

“Ontem e hoje estão entre os dias dos últimos anos com as condições meteorológicas mais severas, no que a fogos diz respeito”, diz Jorge Ponte, meteorologista do IPMA, ao PÚBLICO.

Um anticiclone posicionado por cima das ilhas britânicas está a provocar um fluxo de ar vindo de leste, ou seja, do interior do continente europeu. No caso de Portugal, esse fluxo vem do interior da Península Ibérica, trazendo para o litoral português uma massa de ar quente, com temperaturas anormalmente altas, e seca.

“As humidades relativas são muito baixas, não só durante a tarde, mas também durante a noite. Agravaram-se especialmente durante o dia de ontem. Com valores inferiores a 20% e, em alguns sítios, inferiores a 10-15%”, adianta o meteorologista. Por isso, o litoral português, que costuma ter condições mais húmidas, tornou-se muito vulnerável aos incêndios.

Para agravar o problema, este fluxo de ar de quadrante leste trouxe “um gradiente de depressão entre o anticiclone situado nas ilhas britânicas e uma região depressionária no Norte de África, fazendo com que o vento soprasse com intensidade”, diz o especialista. As rajadas de vento sentidas no Norte e Centro de Portugal, que atingem os 60 e 70 quilómetros por hora, foram causados por este gradiente.

“Estas são aquelas situações meteorológicas que fazem acender os ‘alarmes de incêndio’ quando os meteorologistas as vêem, são condições típicas extremamente adversas” que facilitam muito a propagação de incêndios, nota o meteorologista. Por outro lado, o que se está a viver agora contrasta com aquilo que Portugal continental viveu durante uma boa parte do Verão, quando um fluxo de Norte-Noroeste, vindo do Atlântico, trouxe uma massa de ar mais húmida, principalmente para as zonas do litoral.

As condições adversas, principalmente nas regiões do Norte e do Centro, iniciaram-se no domingo, mas intensificaram-se nesta segunda-feira. Segundo o IPMA, amanhã à tarde prevê-se que a velocidade do vento irá abrandar, mas a humidade relativa do ar só irá aumentar a partir de quinta-feira, quando “poderá haver alguns aguaceiros fracos e dispersos”, antecipa Jorge Ponte.

De qualquer forma, “é sempre prudente continuar com cautela em relação a esta situação”, acrescenta. “Do ponto de vista meteorológico, as condições durante o dia de ontem e hoje são bastantes extremas”, repete o meteorologista.

Segundo o perito, estas condições foram previstas pelo IPMA com alguns dias de antecedência. “Naturalmente, alertámos as entidades e a Protecção Civil, e daí eles terem emitido com dois dias de antecedência o alerta especial”, diz o especialista.

Embora a situação seja extrema, o posicionamento do anticiclone por cima das ilhas britânicas não é raro e pode ocorrer em qualquer altura do ano. No entanto, quando ocorre no Inverno as temperaturas são mais baixas. Perguntámos se há uma mão das alterações climáticas nas condições meteorológicas que se estão a viver? “É evidente que a temperatura média global tem aumentado, temos tido mais períodos de seca”, responde Jorge Ponte, “mas não posso justificar esta situação particular com as alterações climáticas”. Para isso, seria necessária uma análise de um período longo para perceber se estas condições estão a tornar-se mais frequentes ou mais intensas, conclui o meteorologista.