À direita ou à esquerda? PS e Chega disponíveis para aprovar orçamento nos Açores

PS muda de estratégia e apresenta 11 propostas para viabilizar orçamento regional. O PSD tem governado com o apoio do Chega, que se diz disposto a aprovar o documento.

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Presidente do governo regional José Manuel Bolieiro recebeu nesta segunda-feira os partidos, na preparação do orçamento para 2025 Rui Gaudêncio
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Nos Açores, PS e Chega estão disponíveis para viabilizar o orçamento do governo regional liderado pelo PSD. Os socialistas, agora com novo líder, Francisco César, mudaram de estratégia e apresentaram 11 propostas em troca de uma abstenção, incluindo a não aplicação da polémica medida para dar prioridade aos filhos dos pais que trabalham no acesso à creche. A decisão está, agora, do lado de Bolieiro.

“Esta é uma oportunidade de construirmos um orçamento ao centro ou um desperdício se o Governo optar por construir um orçamento junto da direita populista”, afirmou Francisco César, após uma reunião com Bolieiro. O líder do executivo dos Açores está a receber os partidos a propósito da elaboração das contas regionais para 2025.

As declarações do novo presidente dos PS-A, eleito em Junho após quatro mandatos de Vasco Cordeiro, revelam uma alteração na estratégia do partido na região. Entre as 11 medidas está a rejeição do critério que visa dar prioridade aos filhos de pais trabalhadores no acesso à creche (proposto pelo Chega) e o aumento do número de vagas associado à construção de uma nova rede de creches.

Os socialistas querem, também, a criação de um programa de apoio às despesas de alojamento dos universitários deslocados, um pacote para facilitar o acesso à habitação e incentivos para os jovens ingressarem no ensino superior. Francisco César reivindicou a redução das listas de espera na saúde, mais transparência no Plano de Recuperação e Resiliência, a diminuição em 50% da dívida não financeira e a imposição de um limite para que a dívida pública não ultrapasse, em 2025, o valor registado em 2023. O caderno de exigências do PS contempla ainda a redução, até 30 de Março, dos elementos dos gabinetes do governo regional.

Mesmo que algumas medidas sejam de difícil aplicação, ao assumir disponibilidade para viabilizar o orçamento, o PS não só coloca na agenda as principais bandeiras do partido, como procura obrigar o PSD a definir-se em relação à política de alianças. É a primeira vez que o maior partido da oposição demonstra tal abertura desde que Bolieiro assumiu o poder em 2020.

Se na República ainda não é possível identificar uma maioria óbvia capaz de garantir a governabilidade, nos Açores, desde 2020 que o PSD governa à direita com o apoio do Chega. O acordo entre os dois partidos estendeu-se a esta legislatura, tendo o Chega viabilizado o programa do governo regional (cuja reprovação significaria a demissão do executivo) e o orçamento para 2024, votado em Maio. O PS também se absteve na votação do orçamento para este ano, justificando-o com o incêndio no Hospital de Ponta Delgada, mas manteve-se sempre à margem de qualquer negociação com o executivo regional.

Por sua vez, o Chega criticou a nova estratégia socialista e quase deu como garantido um voto favorável no próximo orçamento. “Não me agrada mesmo nada ver um partido supostamente de direita como o PSD, apoiado ou coligado ao PS, que tanto mal causou aos Açores e a Portugal”, vincou José Pacheco, líder regional do partido. Para o deputado do Chega-A, é preciso evitar nos Açores um “clima de instabilidade ridículo” como se vive na República. “É uma questão, nem é de estabilidade, é de responsabilidade.” A discussão do orçamento dos Açores para 2025 está marcada para Novembro, mas desta vez a estabilidade não parece estar em causa.

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