Presidente do Irão disposto a negociar com os EUA se Washington parar com as hostilidades
Masoud Pezeshkian diz que EUA têm de mostrar “boa vontade na prática” para que as conversações sejam retomadas e garante que Teerão não enviou mísseis para a Rússia desde a sua tomada de posse.
O novo Presidente do Irão, Masoud Pezeshkian, disse esta segunda-feira que negociações com os Estados Unidos são possíveis se Washington demonstrar "na prática" que não é hostil em relação ao Governo iraniano. Na sua primeira conferência de imprensa desde que tomou posse no final de Julho, Pezeshkian garantiu que o seu país não enviou quaisquer armas para a Rússia desde que ele assumiu o cargo, sucedendo a Ebrahim Raisi, morto num acidente de helicóptero.
"Não somos hostis para com os EUA, eles devem acabar com a sua hostilidade para connosco mostrando, na prática, a sua boa vontade", disse o Presidente, acrescentando que os iranianos "são irmãos dos norte-americanos também". Sublinhando, no entanto, que "o Irão nunca aceitará nenhuma intimidação".
A visão de Pezeshkian sobre as negociações com os EUA é partilhada pelo presidente do Parlamento iraniano, Baqer Qalibaf: "Enquanto os países ocidentais continuarem a fazer estas afirmações [contra o Irão], não será possível estabelecer um diálogo efectivo."
Numa entrevista dada no domingo à televisão pública, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, disse que não iriam fazer qualquer acordo até que os interesses do Irão "sejam garantidos" e que não estavam à espera que os EUA iniciassem agora negociações numa altura em que as eleições presidenciais estão tão próximas.
"Se for necessário, iniciaremos contactos com os europeus e não esperaremos pela América”, afirmou Araghchi.
Na conferência de imprensa desta segunda-feira, o Presidente afirmou ainda, citado pela Reuters, que o Irão nunca abandonará o seu programa de mísseis, referindo que necessita dessas armas para a sua defesa, numa região em que um país como Israel consegue "lançar mísseis sobre Gaza todos os dias".
Segundo a agência de notícias iraniana Mehr, Pezeshkian referiu-se também à crise económica que o seu país está a viver, dizendo que o Irão terá de "resolver as questões relativas às sanções e ao Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI)", organização intergovernamental que combate o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo que colocou o país na lista negra.
Nem uma arma para a Rússia
Respondendo a uma pergunta dos jornalistas sobre se o Irão tinha enviado armas para a Rússia, Pezeshkian garantiu que, pelo menos desde que tomou posse, isso não aconteceu. "É possível que tenha havido entrega [de armas] no passado... Mas posso garantir-vos que, desde que assumi funções, não houve qualquer entrega desse tipo à Rússia", adiantou.
Para o novo Presidente iraniano, as relações com os outros países dos BRICS como a Rússia e a China, são algo que pretende "desenvolver". Referindo-se especificamente à China, Pezeshkian sublinhou a parceria estratégica entre os dois países e elogiou o papel da diplomacia chinesa na reconciliação entre o Irão e a Arábia Saudita.
Membro da facção moderada do regime iraniano, Masoud Pezeshkian tomou posse a 30 de Julho, depois de ter ganho as eleições presidenciais à segunda volta contra Saeed Jalili o representante da facção de linha dura, na qual estava integrado o seu antecessor. E o seu Governo é o único que pela primeira vez desde 2011 passou totalmente no crivo do Parlamento: os 19 ministros propostos foram aceites pela maioria dos deputados.
O executivo é um misto de personalidades reformistas com membros de linha dura, numa tentativa de equilíbrio entre as duas linhas que dominam o regime.
“O caminho para a nossa salvação é a unidade e a solidariedade”, disse no seu discurso no Parlamento, na tomada de posse, sentimento que reiterou nesta conferência de imprensa.