Escândalo de notícias falsas no “mais antigo e influente” jornal judeu

The Jewish Chronicle afastou Elon Perry e apagou nove artigos. Quatro cronistas demitiram-se por esta “última vergonha” para um jornal que se tornou “um instrumento partidário e ideológico”.

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O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu SAMUEL CORUM / POOL / EPA
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O “mais antigo e influente” jornal judeu do mundo, como se intitula, enfrenta uma grave crise depois de se ter descoberto que um dos seus jornalistas “fabricava” notícias que ajudavam à narrativa do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em relação à guerra em Gaza. A direcção do Jewish Chronicle, com sede em Londres, anunciou na sexta-feira, em comunicado, que tinha afastado Elon Perry e apagado nove dos seus artigos, alegando dúvidas sobre a credibilidade dos mesmos.

“O Jewish Chronicle concluiu uma investigação exaustiva sobre o jornalista freelance Elon Perry, iniciada depois de terem sido feitas alegações sobre aspectos do seu currículo. Embora saibamos que serviu nas Forças de Defesa de Israel, não ficámos satisfeitos com algumas das suas alegações. Por conseguinte, retirámos as suas histórias do nosso site e pusemos termo a qualquer associação com Perry”, diz o comunicado.

De acordo com o Guardian, quatro dos mais conhecidos colunistas do semanário (David Baddiel, Jonathan Freedland, David Aaronovitch e Hadley Freeman) anunciaram a sua demissão em protesto por aquilo a que chamam “grandes fabricações” de Perry sobre o conflito na Faixa de Gaza, que terão incluído declarações falsas atribuídas aos serviços secretos israelitas.

Freedland, que também é colunista e tem um podcast no Guardian, escreveu que este “último escândalo é uma grande vergonha para o jornal”, mas não é uma excepção, apenas o último numa longa lista para um jornal que, “demasiadas vezes”, se tornou “um instrumento partidário e ideológico”, com “avaliações mais políticas do que jornalísticas”.

O escândalo surgiu depois de uma investigação de Simi Spolter, do jornal económico israelita TheMarker, levantar muitas dúvidas sobre a credibilidade jornalística de Perry, apresentado pelo Jewish Chronicle como um “antigo comando da brigada de elite Golani das Forças de Defesa de Israel” durante 28 anos e que é jornalista há 25 anos e dá palestras no Reino Unido e nos Estados Unidos “sobre os 100 anos de terror no Médio Oriente”.

Os artigos de Perry traziam relatos pormenorizados das operações israelitas que não pareciam textos jornalísticos, o último dos quais referia um plano do líder do Hamas, Yahya Sinwar, para fugir de Gaza para o Irão levando consigo alguns dos reféns capturados pelo grupo palestiniano no ataque de 7 de Outubro em Israel.

De acordo com a imprensa israelita, Perry faria parte de uma unidade clandestina das Forças de Defesa de Israel, infiltrado na imprensa europeia para, segundo o Guardian, apoiar a posição de Netanyahu nas suas negociações em relação a Gaza.

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