Agressão em directo marca debate aceso entre candidatos a prefeito de São Paulo

José Luiz Datena, do PSDB, atirou uma cadeira contra Pablo Marçal, do PRTB, durante um debate televisivo no domingo à noite. O primeiro foi expulso e o segundo foi para o hospital.

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Momento da agressão de José Luiz Datena e Pablo Marçal no debate na TV Cultura TV Cultura
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O candidato José Luiz Datena, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), agrediu Pablo Marçal do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) com uma cadeira a meio do debate na TV Cultura, na noite de domingo, após uma sequência de acusações. O primeiro foi expulso e o segundo deixou o programa que reunia os candidatos à Prefeitura [Câmara Municipal] de São Paulo.

O debate foi interrompido imediatamente e voltou ao ar com os outros quatro participantes, que lamentaram o episódio e atribuíram a responsabilidade do ocorrido tanto a Datena quanto a Marçal.

O candidato do PRTB provocou o adversário, apresentador de televisão, ao resgatar uma denúncia de assédio sexual contra Datena. O jornalista respondeu que o caso não foi confirmado pela polícia e acabou arquivado pela Justiça. Disse ainda que o facto atingiu a sua família e levou à morte da sua sogra.

"Senhoras e senhores, nós vamos às manchetes pela pior cena já vista em debates. Peço que se comportem para terminarmos bem o debate", disse o moderador, Leão Serva, após a confusão, afirmando que a agressão foi um dos "eventos mais absurdos da história da TV brasileira".

Marçal saiu do teatro para um hospital para receber atendimento por estar "ferido, com suspeita de fracturas na região torácica e muita dificuldade em respirar", de acordo com a sua assessoria. Segundo a equipa de resgate que levou o candidato ao hospital, ele reclamava de falta de ar e disse ter sido atingido numa costela. Os socorristas constataram que Marçal estava com uma luxação num dos dedos da mão.

O candidato, influencer e autodenominado ex-coach, demonstrou-se contrariado com a continuação do debate sem a sua presença e, nas redes sociais, comparou o episódio aos atentados sofridos pelo ex-Presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018 e por Donald Trump na actual disputa pela Presidência dos Estados Unidos.

Após a agressão, jornalistas que cobriam o debate a partir de uma sala de imprensa dirigiram-se à porta do estúdio, mas foram impedidos de entrar, primeiro pela segurança do local e, depois, pela polícia. O debate foi realizado no Teatro B32, na Avenida Faria Lima, em São Paulo. O combinado era que não haveria assistência no teatro e, por isso, os jornalistas acompanhavam o debate do lado de fora.

Antes disso, o prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) fôra o principal alvo do debate, também marcado por uma tentativa de isolar Marçal, que foi ora ignorado, ora criticado pelos rivais.

Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo), os outros três convidados do programa, usaram perguntas e respostas para desqualificarem a gestão de Nunes, que se defendeu.

A "mentira" por trás da agressão

O caso de assédio citado por Marçal ocorreu em 2019, quando Bruna Drews, então repórter do programa Brasil Urgente, apresentado por Datena, disse ter sido assediada por este. A jornalista afirmou, na época, que o apresentador frequentemente fazia comentários sobre o seu corpo, em tom sexual.

Após a repercussão do caso, ela retratou-se e fez uma declaração registada num cartório em que afirma ter mentido. Dias depois, afirmou nas redes ter sido induzida a retratar-se.

Datena reagiu a Marçal, indignado com a acusação e afirmando que ele não tinha conhecimento do que falava. "Você foi condenado como bandidinho, ladrão de dados da internet. Isso [acusação] custou muito para minha família. O que você fez comigo hoje foi terrível, e espero que Deus lhe perdoe", disse.

"A minha vida é aberta, quem é bandido, acusado, condenado, quer mentir sobre seu passado", afirmou Datena, no contra-ataque a Marçal. Datena disse ainda que o influenciador continua a ser um "ladrãozinho de banco", em alusão a um esquema que chegou a levar o rival a ser condenado em primeira instância.

Por sua vez, o candidato do PRTB chamou Datena de "arregão" (cobarde). O apresentador, que usou a cadeira destinada a Marina Helena no cenário para acertar o oponente, já havia partido para cima de Marçal no debate anterior, realizado pela TV Gazeta e Canal MyNews no dia 1, mas sem chegar a agredi-lo.

Uma das razões para Datena ter perdido as estribeiras desta vez foi o facto de ter sido chamado pelo influenciador de "Jack", gíria comum nas prisões para se referir a violadores.

Datena disse, já fora do local onde agrediu o rival, que "infelizmente" perdeu a cabeça e afirmou que reagiu ao ter sido acusado de cometer o que jamais cometeu. Ele declarou ainda que pretende continuar na corrida eleitoral, afastando os rumores recorrentes de que desistiria.

Nos bastidores

Segundo assessores e candidatos que estavam no teatro, Marçal foi atingido no braço e chegou a se posicionar de volta no púlpito para continuar no debate, mas desistiu após consultar a sua equipa.

Ainda de acordo com os relatos, antes da agressão, Marçal provocou Datena longe dos microfones, e o apresentador teria ficado revoltado porque o tema da acusação de assédio envolve a sua família.

Assessores afirmam que, após a agressão, seguranças entraram em cena para separá-los, mas Marçal cerrou os punhos, em desafio, e ainda teria dito ao adversário que iria pô-lo na cadeia.

Antes do debate, em entrevista à imprensa, Datena comentou o facto de ter chorado no final de outro debate, realizado pela Folha de S.Paulo e pelo UOL, na sexta-feira. "Eu choro, sorrio, se precisar de dar porrada, dou porrada", disse. Também declarou que prefere a sua versão mais "light e humana" e garantiu que não reagiria a provocações de Marçal durante o debate.

"Você acha que vou bater nele ou apanhar? Isso aqui não é briga. A minha resposta vai ser o silêncio", afirmou.

O debate transcorreu sob regras mais rígidas, motivadas pela pressão de adversários de Marçal, insatisfeitos com o seu incumprimento dos acordos em encontros anteriores e a ausência de punições. A queixa era que ele usava os debates como palanque e ofuscava a discussão de propostas.

Durante a semana, contudo, o influenciador prometeu manter o estilo incendiário e provocativo contra os rivais, dizendo esperar que o programa deste domingo fosse "a maior baixaria de todos os tempos".

O regulamento previa sanções como advertência e perda de tempo em caso de desobediência, chegando à pena de expulsão após a terceira infracção. O debate não teve assistência, motivo de confusão em outras ocasiões, e os candidatos foram proibidos de manusear telemóveis, usar bonés e dizer palavrões.

Em nota após o caso de violência, a TV Cultura disse lamentar a situação e declarou que todas as providências foram tomadas de acordo com as regras estabelecidas por escrito com as campanhas. Além disso, afirmou que o programa foi mantido mediante consulta e concordância dos demais candidatos.

A mais recente sondagem Datafolha, de quinta-feira passada, mostrou Nunes (27%) e Boulos (25%) isolados na dianteira das intenções de voto, em empate técnico, com Marçal (19%) em perda após um salto na sondagem anterior. Tabata registou 8% e Datena teve 6%.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo

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