Justiça autoriza Governo do Brasil a exceder orçamento face à crise climática

A medida permite também ao Governo contratar temporariamente novos quadros para os bombeiros. O juiz disse que o Brasil está a passar por uma “pandemia de incêndios florestais”.

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A medida vai permitir que as despesas com o combate aos incêndios não afectem o cálculo das deficitárias contas públicas brasileiras Adriano Machado / REUTERS
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O Supremo Tribunal Federal autorizou o Governo do Brasil a modificar o orçamento, sem que isso seja contabilizado no cálculo fiscal, e a contrair empréstimos extraordinários para combater a "crise climática" provocada pelos incêndios que afectam o país.

A decisão divulgada no domingo pelo juiz Flávio Dino, que até Fevereiro era ministro da Justiça, vai permitir que as despesas com o combate aos incêndios não afectem o cálculo das deficitárias contas públicas brasileiras.

A medida administrativa permite também ao Governo contratar temporariamente novos quadros para os bombeiros, pelo menos até ao final do ano.

Dino defendeu que “não se pode negar uma ajuda efectiva a mais de metade do território nacional, às suas respectivas populações e à flora e fauna da Amazónia ou do Pantanal, sob o pretexto do cumprimento de uma norma contabilística que não consta da Magna Carta".

O juiz argumentou que “as consequências negativas para a responsabilidade fiscal serão maiores devido à erosão das actividades produtivas nas zonas afectadas pelos incêndios e pela seca, do que as causadas pela suspensão momentânea” das regras que regulam a despesa do Estado.

Um medida semelhante tinha sido adoptada em 2021, quando eclodiu a pandemia de covid-19 no país, face à qual o Governo teve de incorrer em despesas extraordinárias.

Na semana passada, Dino já tinha dito num evento público que o Brasil deveria redobrar as medidas face ao que considerou ser uma “pandemia de incêndios florestais”.

Há mais de um mês que quase 60% do território do país sofre a pior seca em sete décadas, com temperaturas muito superiores ao habitual, que tem gerado milhares de incêndios, com especial incidência em zonas da Amazónia, da savana central do Cerrado e do Pantanal.

A isto juntam-se os incêndios ateados por proprietários que preparavam terrenos para plantação mas que se descontrolaram, o que levou a ministra do Ambiente, Marina Silva, a afirmar que o país, para além do aquecimento global, também sofre de "terrorismo climático".

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais brasileiro, estavam activos no domingo 2793 focos de incêndio no Brasil, concentrados sobretudo na região amazónica. De acordo com o braço do Fundo Mundial para a Natureza no Brasil, o número de focos de incêndio na Amazónia é o maior registado desde 2004.