Venezuela deteve seis estrangeiros suspeitos de planearem derrube de Maduro

Espanha e EUA rejeitam as alegações de que os cidadãos dos seus países estivessem a conspirar contra o regime chavista. Governo vincula detidos à CIA e aos serviços secretos espanhóis.

Foto
Dois dos cidadãos espanhóis detidos pelas autoridades venezuelanas por suspeita de conspirarem contra o Governo de Maduro VTV HANDOUT / EPA
Ouça este artigo
00:00
03:22

As autoridades venezuelanas anunciaram a detenção de seis cidadãos estrangeiros suspeitos de conspirarem para assassinar vários dirigentes do país, incluindo o Presidente, Nicolás Maduro. As alegações foram rapidamente desmentidas pelos governos dos países envolvidos.

O anúncio da detenção de três norte-americanos, dois espanhóis e um checo foi feito pelo ministro do Interior, Diosdado Cabello, uma das principais figuras do chavismo, no sábado à noite. Enquanto eram mostradas imagens dos detidos, Cabello explicava que os dois espanhóis foram detidos enquanto tiravam fotografias nas imediações de um aeroporto e que foram interceptadas comunicações por telemóvel nas quais perguntavam como comprar explosivos e planeavam o homicídio de uma autarca chavista.

“Os Estados Unidos não estão alheios a esta operação”, garantiu Cabello, numa comunicação pouco clara e confusa, segundo o El País. Foram ainda apreendidas pela polícia 400 espingardas, acrescentou o mesmo dirigente.

O ministro disse que os espanhóis têm ligações ao Centro Nacional de Inteligência (CNI), os serviços secretos de Espanha, e que os norte-americanos eram “mercenários” ao serviço da CIA. Segundo Cabello, os norte-americanos entraram em contacto com “mercenários franceses” colocados na Europa de Leste para participarem num plano para derrubar o Governo venezuelano e assassinar Maduro, a vice-presidente Delcy Rodríguez e a si próprio.

“A CIA está à frente desta operação, e isso não nos surpreende, mas eles, o Centro Nacional de Inteligência de Espanha, sempre se mantiveram discretos sabendo que a CIA opera nesta área”, afirmou Cabello.

As acusações do regime venezuelano foram de imediato desmentidas em Washington e Madrid. O Departamento de Estado norte-americano confirmou a detenção de um cidadão norte-americano militar e disse ter tomado conhecimento de outras duas detenções de nacionais na Venezuela.

“Quaisquer alegações de envolvimento dos EUA num plano para derrubar Maduro são categoricamente falsas. Os EUA mantêm o apoio a uma solução democrática para a crise política na Venezuela”, afirmou o Departamento de Estado.

Uma fonte do Governo espanhol negou que os indivíduos detidos tenham qualquer ligação ao CNI. “A Espanha nega e rejeita categoricamente qualquer insinuação de que esteja envolvida numa operação de desestabilização política na Venezuela”, disse a fonte citada pela AFP. As autoridades checas não reagiram à detenção de um cidadão nacional do país.

As detenções e acusações suscitadas pelo Governo venezuelano surgem numa altura de enorme instabilidade política no país sul-americano e num quadro de degradação das relações entre Caracas e Madrid. Na semana passada, o Congresso espanhol aprovou uma moção em que se recomenda o reconhecimento da vitória do candidato oposicionista, Edmundo González, nas eleições presidenciais de Julho. Em retaliação, o Parlamento venezuelano está a ponderar aprovar legislação que visa romper as relações com Espanha.

As autoridades eleitorais venezuelanas declararam Maduro como vencedor das eleições, mas a oposição acredita que houve fraude na contabilização dos resultados e tem exigido desde então a publicação integral das actas oficiais das urnas. As sondagens apontavam para uma vitória confortável de González, que poria fim a duas décadas de controlo pelo chavismo das instituições políticas venezuelanas.

O Governo espanhol, à semelhança de outros governos europeus e sul-americanos, não reconheceu a vitória de Maduro. No início do mês, González exilou-se em Espanha para escapar a uma mais que provável detenção na Venezuela.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários