A realidade artificial: o papel da inteligência artificial na educação

O que falta, muitas vezes, é uma reflexão equilibrada sobre como a IA pode, de facto, influenciar positivamente a nossa realidade atual, sem ignorar os desafios que ela traz.

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Quando falamos sobre o impacto da inteligência artificial (IA) na educação, tendemos a cair em extremos: ou a IA é vista como a ameaça que vai destruir o ensino, ou como a solução mágica que resolverá todos os seus problemas. Em ambos os casos, corre-se o risco de perder de vista o presente, trocando-o por uma realidade artificial de um futuro imaginado. O que falta, muitas vezes, é uma reflexão equilibrada sobre como a IA pode, de facto, influenciar positivamente a nossa realidade atual, sem ignorar os desafios que ela traz.

Em primeiro lugar, é importante reconhecer que a IA já desempenha um papel significativo em várias áreas da sociedade. No ensino, por exemplo, a IA é cada vez mais utilizada por alunos e professores para automatizar processos repetitivos, permitindo que se concentrem em atividades que exigem criatividade, pensamento crítico e empatia — qualidades tipicamente humanas. Sob essa perspetiva, delegar tarefas menores, mas que consomem muito tempo, à IA não só é útil como pode ser enriquecedor, libertando-nos para o que realmente importa.

Além disso, a IA também tem demonstrado potencial para ser uma força inclusiva. Num mundo onde barreiras linguísticas e dificuldades de expressão limitam a participação plena de muitas pessoas, a IA pode ser um equalizador poderoso. A tradução e edição automática baseada em AI de textos científicos e académicos, por exemplo, democratizam a produção e acesso ao conhecimento à escala global, contribuindo para uma maior diversidade de ideias e perspetivas no diálogo científico.

Contudo, a introdução de IA na educação também levanta questões preocupantes. O uso indiscriminado desta tecnologia para geração de conteúdos e ideias pode desumanizar o processo educativo, transformando-o num mecanismo limitado e de confiabilidade questionável e em que todos os intervenientes se tornam meros peões numa interação padronizada. A educação deve ser uma prática da liberdade, como nos lembrou Paulo Freire, e não uma via de conformismo aos sistemas existentes. Há o perigo de que a IA se transforme numa ferramenta massiva de “colonização” do conhecimento, impondo padrões globais que não refletem as diversidades individuais, culturais e contextuais de pessoas de diferentes regiões. Isso não só pode sufocar a criatividade e a inovação, como também pode levar à disseminação de conceitos incorretos e à perda de práticas e saberes tradicionais, que possuem um valor inestimável.

A IA é, em última análise, uma extensão das intenções humanas. Se for encarada como uma substituição inevitável para todas as atividades, corremos o risco de desvalorizar tudo o que nos torna seres humanos. Mas se a utilizarmos como um potenciador das nossas capacidades, ela poderá contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e valorizadora do potencial das pessoas.

O debate sobre o papel da IA na educação e na sociedade não deve ser polarizado entre a rejeição total ou a aceitação cega. O caminho a seguir exige uma abordagem crítica e informada, que reconheça tanto as potencialidades quanto os riscos envolvidos. As universidades, em particular, têm uma responsabilidade fundamental: não só devem ensinar os estudantes e professores a utilizar ferramentas de IA, como também devem incentivá-los a refletir de forma frequente e profunda sobre os impactos éticos e sociais dessas tecnologias.

O futuro será moldado pelas escolhas que fazemos. Se queremos que a IA seja uma força positiva, devemos estar preparados para questionar as suas promessas e moldá-la firmemente de acordo com os nossos valores. A realidade é aquilo que fazemos dela — e a nossa responsabilidade é garantir que a IA sirva para expandir, e não limitar, as possibilidades humanas.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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