Sindicato da guarda prisional acusa ex-director-geral de “sacudir água do capote”

Dirigentes sindicais dizem que Abrunhosa Gonçalves poderia ter tido uma intervenção directa para alterar e resolver os problemas de segurança das cadeias e não o fez.

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Está agendado para dia 19 no exterior da cadeia de Vale de Judeus um encontro de solidariedade com os guardas prisionais Rui Gaudêncio
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O presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional considerou esta sexta-feira lamentável que o ex-director-geral dos Serviços Prisionais venha "sacudir a água do capote" e tentar culpar a guarda prisional pela fuga de Vale de Judeus.

Em declarações à agência Lusa a propósito da entrevista de Rui Abrunhosa Gonçalves à RTP, Frederico Morais referiu que é "lamentável" e "muito triste" ouvir o ex-director das prisões, que foi demitido pela ministra da Justiça, tentar atirar as culpas para a guarda prisional, "não assumindo as responsabilidades que tinha" como responsável máximo da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP).

Frederico Morais lembrou que a ministra da Justiça reconheceu publicamente que as suas críticas à falta de comando e desleixo relacionadas com a fuga de cinco reclusos daquela cadeia envolviam o então responsável máximo da DGRSP.

E acrescentou que, apesar de agora Rui Abrunhosa Gonçalves tentar "sacudir a água do capote", o sindicato (SNCGP) defenderá "com unhas e dentes" os guardas que prestam serviço em Vale de Judeus.

Também Hermínio Barradas, presidente da Associação Nacional de Chefes da Guarda Prisional, criticou a tentativa de desresponsabilização de Rui Abrunhosa Gonçalves na entrevista à RTP, observando que era o então director-geral que poderia ter tido uma intervenção directa para alterar e resolver os problemas de segurança das cadeias e não o fez.

Hermínio Barradas assinalou a "falta de estratégia" para o sistema prisional durante o mandato de Rui Abrunhosa Gonçalves à frente da DGRSP, nomeadamente em termos de segurança e condições de trabalho para a guarda prisional.

Por seu lado, fontes do sistema prisional adiantaram à Lusa que a directora-geral interina das prisões, Isabel Leitão, se deslocou esta sexta-feira de manhã a Vale de Judeus onde manteve uma reunião com as chefias da guarda e outros responsáveis para analisar questões de segurança e de funcionamento daquela prisão.

Guarda de Vale de Judeus ouvido pela PJ

Também hoje, em Vale de Judeus, um dos guardas visados no processo de averiguações interno da Auditoria e Inspecção dos Serviços Prisionais relativo à fuga dos reclusos foi ouvido pela Polícia Judiciária (PJ) no âmbito do inquérito-crime aberto pelo Ministério Público para apurar o que se passou.

Fonte ligada à investigação revelou à Lusa que a inquirição deste guarda de serviço à videovigilância incidiu basicamente sobre "horários de entrada e de saída" e outros "aspectos funcionais" do trabalho ali desenvolvido.

Entretanto, centenas de guardas prisionais, de norte a sul do país, são esperados dia 19 no exterior da cadeia de Vale de Judeus num "encontro de solidariedade" para demonstrar "a união e a força" da classe, numa iniciativa do SNCGP.

Fonte sindical adiantou à Lusa que vários elementos das outras forças de segurança, incluindo a PSP, já manifestaram ao SNCGP a intenção de estarem presentes neste encontro de solidariedade com a guarda prisional.

Cinco reclusos fugiram no sábado do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, distrito de Lisboa.

Os evadidos são dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e os 61 anos.

Foram condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, por vários crimes, entre os quais tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.