Quercus insiste em solução definitiva para resíduos nucleares da central de Almaraz

A associação ambientalista considera que “é necessário acelerar a disponibilidade” do armazém definitivo, que só deverá estar pronto depois de 2073.

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O adiamento do encerramento da central nuclear espanhola de Almaraz foi alvo de críticas de ambientalistas ao longo de vários anos Rui Gaudêncio
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A associação ambientalista Quercus defende uma alternativa definitiva para os resíduos nucleares da central espanhola de Almaraz e pediu à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) que emita um parecer nesse sentido.

Num comunicado de imprensa divulgado esta sexta-feira, a Quercus explicou que participou na consulta pública sobre a construção do novo Armazém Temporário Individualizado (ATI-100) da central nuclear espanhola, através da qual apresentou sugestões alternativas à proposta que foi feita pela entidade promotora do projecto, a Empresa de Centrales Nucleares Almaraz-Trillo (CNAT).

"Defendemos que a Agência Portuguesa do Ambiente emita um parecer em que se solicite uma alternativa definitiva para os resíduos nucleares", sustentou a organização.

O ATI-100 é um passo intermédio do 7.º Plano de Resíduos Radioactivos de Espanha. Segundo o projecto, será preciso esperar pelo menos até o ano de 2073 para ficar pronto o Armazém Geológico em Profundidade (AGP), que será a solução definitiva para os resíduos da central.

"Consideramos que é necessário uma alternativa ao que é proposto [ATI-100]. É necessário acelerar a disponibilidade do AGP, colocando em marcha quanto antes o complexo processo político, social e técnico que conduza a uma solução menos má, já que não se pode abordar o problema dos resíduos de alto nível de radioactividade sem riscos nem danos", sintetizou a Quercus.

Riscos subestimados?

Sobre o que está a ser analisado neste momento, os ambientalistas sublinharam que "se deve desde já prever situações como a possível instalação de um Armazém Temporário Descentralizado (ATD), e se a instalação do ATI-100 não poderá comprometer o ATD".

"Não deveria haver, por isso, um Estudo de Impacto Ambiental independente posterior como é indicado no documento agora em discussão", questionaram.

Adiantaram também que no documento em análise "não está contemplada a possibilidade de um acidente grave ou catastrófico", um risco que segundo a Quercus "deveria ser tido em conta".

"O plano de gestão dos resíduos mostra que a energia nuclear é cara, suja e perigosa. Temos lutado há muitos anos com o Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) pelo encerramento da central nuclear de Almaraz, que constitui um perigo para Espanha e também para Portugal", concluíram.

Contra o nuclear

Em Agosto, a APA anunciou a consulta pública (que terminou na quinta-feira) para a construção de um novo armazém da central nuclear de Almaraz, para depositar resíduos altamente radioactivos a 100 quilómetros da fronteira com Portugal. Os ambientalistas realçaram que a melhor gestão dos resíduos nucleares é não os gerar, pelo que defendem o encerramento de todas as centrais nucleares.

Na quinta-feira, a associação ambientalista Zero anunciou que submeteu à consulta pública um parecer em que se declara favorável à construção do armazém temporário, considerando-o “um mal necessário”, na medida em que se trata de “uma infra-estrutura necessária para o processo de desmantelamento da central”.

A central de Almaraz está situada junto ao rio Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.

Operação só até 2028

Em Junho, a empresa pública espanhola Enresa, responsável pela gestão dos resíduos radioactivos, anunciou o início do processo de concurso para serviços de engenharia destinados ao desmantelamento da central nuclear de Almaraz, situada na província de Cáceres. É no âmbito deste processo que se enquadra o Armazém Temporário Individualizado (ATI-100) sob consulta pública.

Em operação desde 1981 (com operação comercial desde 1983), a central está implantada numa zona de risco sísmico e apenas a 110 quilómetros em linha recta da fronteira portuguesa.

O governo espanhol renovou a licença de exploração para os Grupos I e II da central de Almaraz, em Julho de 2020, prorrogando-a até 1 de Novembro de 2027 e 31 de Outubro de 2028, respectivamente.

Os proprietários da central de Almaraz são a Iberdrola (53%), a Endesa (36%) e a Naturgy (11%).