Chappell Roan é a artista-revelação dos Video Music Awards da MTV. Quem é a princesa queer do Midwest?

Ganhou e agradeceu à comunidade que sempre lhe serviu de guia: “Dedico este prémio a todas os artistas drag que me inspiram, a todas as pessoas trans e queer que alimentam a pop.”

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A artista tinha o dicurso de agradecimento escrito no diário Brendan McDermid / REUTERS
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Chappell Roan lançou o seu álbum de estreia, The Rise and Fall of a Midwest Princess, em Setembro de 2023. Três meses depois, 2 milhões de streams; em Junho, quase 70 milhões — foi o nascimento de um novo fenómeno da pop. Na noite desta quarta-feira, levou para casa o primeiro prémio da carreira: Artista-Revelação nos MTV Video Music Awards.

Subiu a palco coberta por uma cota de malha, qual armadura moderna, e de diário na mão, como se estivesse prestes a ler uma memória íntima. Leu o discurso, escrito horas antes da entrega de prémios, e, além de agradecer aos fãs, falou para a comunidade que sempre lhe serviu de guia. “Dedico este prémio a todas as artistas drag que me inspiram, a todas as pessoas trans e queer que alimentam a pop e aos gays que dedicam as minhas músicas a alguém que amam ou odeiam.”

Para quem nunca viu nem ouviu Chappell Roan, a melhor forma de descrevê-la é como uma espécie de Hannah Montana queer. Nasceu e cresceu Kayleigh Rose Amstutz, em Willard, Missouri, na região centro-oeste dos Estados Unidos, lugar onde o conservadorismo cristão não a deixava viver livremente enquanto pessoa queer — a parte Miley Cyrus da artista. Chappell Roan é a manifestação do que Kayleigh sempre desejou ser, mas em esteróides. É quem escreve as letras e está em palco — a parte Hannah Montana.

Lançou o primeiro single, Good Hurt, em 2017, mas não teve grande sucesso. Esse só chegaria mais tarde, depois de um annus horribilis: 2020. Nesse ano, terminou uma relação longa, a editora com que trabalhava desde 2017 deixou-a, teve de voltar para casa dos pais, onde dormia no escritório, e trabalhava num drive-through. Tudo isto enquanto passava por uma fase maníaca (a artista de 25 anos sofre de doença bipolar). Numa entrevista à Teen Vogue, contou: “Tudo estava a dizer-me que eu precisava de parar.”

Aquele momento quase determinou o fim da sua curta carreira, mas alguma coisa a empurrou: voltou a Los Angeles, arranjou trabalho como assistente de produção, enquanto tomava conta de crianças e trabalhava numa loja de donuts. No Verão de 2021, arranjou uma nova editora, desta vez mais promissora: a Sony.

Foi um namoro curto, mas que não a impediu de chegar ao sucesso, construído de single em single. Pink Pony Club, que se mantém uma das suas músicas mais ouvidas até hoje, soma quase 200 milhões de streams no Spotify onde foi lançado em 2022.

Só no final de 2023, e com uma editora à sua medida, a Amusement Records (Roan é a única artista no portefólio), chegou o álbum de estreia: The Rise and Fall of a Midwest Princess. O álbum segue uma narrativa que se mistura com a sua: a rapariga que veio de uma cidade pequena no Centro-Oeste norte-americano e descobriu em Los Angeles um mundo que pensava só poder existir em sonhos.

No discurso que leu nos VMA, falou também para todos os que viveram a mesma história: “Para todos os miúdos queer que me estão a ver do Midwest, eu vejo-vos, compreendo-vos, porque sou uma de vocês, e nunca deixem que vos digam que não podem ser exactamente quem são.”

Minutos antes de receber o prémio Artista-Revelação, pelo qual também competiam Tyla e Gracie Abrams, subiu ao palco vestida de Joana d’Arc para cantar Good Luck, Babe!. Havia espadas, setas com fogo e um castelo em chamas como pano de fundo. Grande parte da identidade de Chappell Roan está associada à grandiosidade das actuações, os pormenores, a maquilhagem, a roupa, há um imaginário que a une aos fãs.

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Chappell Roan em palco, na última quarta-feira Brendan McDermid / REUTERS

O reconhecimento traz “abusos, assédio, perseguição”

Chappell Roan está a ter um ano de sonho, mas tudo tem um preço. Recentemente, a cantora usou o TikTok para partilhar o que sente sobre a fama recém-adquirida, e quem a segue não ficou muito contente. “Não quero saber se esse tipo de comportamento vem com o trabalho, isso não o torna OK, não o torna normal. Não quer dizer que eu o queira”, disse, referindo-se aos “abusos, assédio e perseguição” que diz sentir.

A artista afirmou ainda que “não quer saber se [os fãs] acham egoísta dizer ‘não’ a uma fotografia ou abraço”, “é estranha a forma como acham que conhecem alguém só porque a vêem online e ouvem a arte que faz”. Esta não é a primeira vez que Roan fala do desconforto que sente quando alguns fãs são muito efusivos ao encontrá-la, quando a perseguem e tentam descobrir informações sobre a vida dela e dos que a rodeiam.

Apesar de ter irritado alguns fãs com estas declarações, é inegável que é um fenómeno pop em ascensão. Recentemente, apareceu na capa da Rolling Stone e vai reunindo uma multidão de curiosos e admiradores que ouvem a música que faz. Segundo o Spotify, há mais de 40 milhões de pessoas que a ouvem todos os meses só naquela plataforma e Good Luck, Babe!, o mais recente lançamento, já foi reproduzida cerca de 640 milhões de vezes.

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