“Preferia que o meu filho tivesse sido morto por um homem branco de 60 anos”
Pai de Aiden Clark, uma criança norte-americana de 11 anos morta num acidente provocado por um imigrante do Haiti, acusa Donald Trump de “distorcer o que aconteceu para promover o ódio”.
O pai de uma criança de 11 anos que morreu num acidente de viação provocado por um imigrante haitiano, no estado norte-americano do Ohio, acusou Donald Trump e o candidato do Partido Republicano a vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, de serem “moralmente corruptos”, e exigiu-lhes que deixem de usar o nome do seu filho “para fins políticos”.
“Preferia que o meu filho, Aiden Clark, tivesse sido morto por um homem branco de 60 anos”, disse o pai da criança, Nathan Clark, num discurso (a partir do minuto 42m30s) perante o órgão legislativo da cidade de Springfield, na noite de terça-feira — uma hora antes do início do debate televisivo entre Trump e a candidata do Partido Democrata à Casa Branca, Kamala Harris, que decorreu no estado vizinho da Pensilvânia.
“Aposto que vocês não estavam à espera de ouvir uma declaração tão directa como esta”, prosseguiu Clark, que surgiu acompanhado pela sua mulher, Danielle Clark. “Mas se o meu filho de 11 anos tivesse sido morto por um homem com esse perfil, nós não estaríamos agora a ser incomodados por este grupo de pessoas que passa a vida a cuspir ódio”, afirmou Clark, referindo-se especificamente a Trump e a Vance, e também ao candidato republicano ao Senado no Ohio, Bernie Moreno, e ao congressista republicano Chip Roy, do Texas.
“A última coisa de que precisamos é de ter o pior dia das nossas vidas esfregado nas nossas caras de forma violenta e constante. Isto tem de acabar imediatamente”, exigiu Clark.
Homicídio involuntário
Aiden Clark, de 11 anos, foi cuspido do autocarro escolar em que seguia e teve morte imediata, na sequência de uma colisão acidental provocada por uma carrinha que circulava na faixa contrária. O condutor da carrinha, Hermanio Joseph, é um imigrante haitiano que entrou legalmente no país e que tem um documento de identificação do Ohio, mas que não tem uma carta de condução válida no estado.
Em Maio, Joseph, de 36 anos, foi condenado a uma pena de entre nove e 13 anos de prisão por homicídio involuntário. Segundo o relato da estação Spectrum News 1, do Ohio, Joseph “mostrou remorso” durante o julgamento, e disse, através de um intérprete, que compreende a dor dos pais de Aiden, já que ele também é pai.
“Por causa de si, os nossos corações vão estar incompletos para sempre”, disse Nathan Clark, no dia da leitura da sentença, dirigindo-se a Hermanio Joseph. Na mesma ocasião, o pai de Aiden Clark disse que não queria ver o nome do seu filho “associado ao ódio que está a ser vomitado por uma maioria desinformada”.
Trump e Vence insistem
A reacção de Nathan Clark na terça-feira foi motivada por um tweet da campanha eleitoral de Donald Trump, publicado na segunda-feira, em que Kamala Harris foi acusada, indirectamente, de ter provocado a morte da criança.
“Não se esqueçam: Aiden Clark, de 11 anos, foi morto a caminho da escola, em Springfield, no Ohio, por um migrante haitiano que Kamala Harris deixou entrar no país. Kamala Harris tem-se recusado a pronunciar o nome de Aiden”, lê-se na mensagem.
No dia do debate presidencial, o candidato republicano a vice-presidente dos EUA insistiu na referência ao caso de Aiden Clark, numa mensagem em que reconheceu não ter provas de que imigrantes haitianos tenham comido animais de estimação em Springfield — uma informação desmentida pelas autoridades locais e que Trump promoveu durante o debate com Harris.
“Sabem o que está confirmado? Que uma criança foi assassinada por um migrante haitiano que não devia estar aqui”, disse Vance, numa referência a Aiden Clark.
Durante a audiência no órgão legislativo de Springfield, na terça-feira, Nathan Clark declarou que o seu filho “não foi assassinado”.
“O meu filho, Aiden Clark, foi morto de forma acidental por um imigrante do Haiti, uma tragédia que afectou a nossa comunidade, o nosso estado e o nosso país. Não distorçam o que aconteceu para promoverem o ódio”, disse Clark.
“Podem vomitar todo o ódio que quiserem sobre os imigrantes ilegais, a crise na fronteira e até sobre alegações falsas de que há animais de estimação fofinhos a serem comidos por membros da nossa comunidade. No entanto, não têm autorização para usarem o nome de Aiden Clark, de Springfield, Ohio”, afirmou o pai da criança.