Alexandra Leitão, Mortágua e Tavares apelam à participação em marcha anti-racista

Marcha anti-racista decorre no mesmo dia da manifestação do Chega contra “imigração descontrolada”. Apelo é assinado também por figuras como Pilar del Río e Richard Zimler.

Foto
Marcha vai descer a Avenida da Liberdade, em LIsboa ROBERT PERRY / LUSA
Ouça este artigo
00:00
03:45

A líder parlamentar do PS, a coordenadora do BE e o porta-voz do Livre estão entre os subscritores de um apelo à participação numa marcha anti-racista, que vai decorrer no mesmo dia da manifestação do Chega contra "imigração descontrolada".

O manifesto intitulado "O país do 25 de Abril não deixa as ruas ao racismo", ao qual a agência Lusa teve acesso, apela à participação popular na marcha organizada pelo "Movimento Negro em Portugal" no dia 21, na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Entre os cerca de 70 subscritores está a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, deputados socialistas como Isabel Moreira, Pedro Delgado Alves e Miguel Costa Matos, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, o líder parlamentar bloquista, Fabian Figueiredo, e ainda os porta-vozes do Livre Rui Tavares e Isabel Mendes Lopes, e do PAN, Inês Sousa Real.

Também assinam o documento figuras como Pilar del Río, jornalista, mulher do Nobel da Literatura e presidente da Fundação Saramago, o escritor Richard Zimler, o arquiteto Eduardo Souto Moura, o activista anti-racista Mamadou Ba, a investigadora Susana Peralta, o cantor Fernando Tordo, o futebolista Francisco Geraldes, entre outros.

No texto lê-se que "está desde há muito convocada para 21 de Setembro uma marcha para comemorar o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, pensador anticolonial e combatente da liberdade dos povos africanos".

"Iniciativa do Movimento Negro em Portugal, a Marxa Cabral - contra o fascismo, a xenofobia e o neocolonialismo - ganha redobrada importância quando se realiza, na mesma data, a manifestação anti-imigração entretanto convocada pelo partido Chega e apoiada por vários grupos neonazis", lê-se no documento.

Os subscritores alertam que "a extrema-direita é a maior ameaça à segurança do país" e referem que "no Reino Unido, como em tantos lugares, vimos mentira e preconceito a fomentar ódio e violência contra os imigrantes".

"A estratégia é a habitual: transformar descontentamento em divisão para conseguir ganhos eleitorais; perpetuar desigualdades a favor dos poderosos para obter o apoio destes", avisam. Os subscritores acreditam que serão mais do que os participantes na manifestação do Chega, que se vai realizar no mesmo dia na baixa de Lisboa.

"O contributo de Amílcar Cabral faz dele um dos autores do 25 de Abril, cujo recente cinquentenário foi uma enorme afirmação cidadã de liberdade, igualdade e esperança. A política do ódio junta apenas uma minoria e a isso deve ser reduzida. Contra a banalização do racismo, apelamos a uma nova maré de liberdade", lê-se no manifesto.

O texto termina com uma referência ao cantor de intervenção José Afonso: "Traz um amigo também. Somos a maioria. Sábado, 21 de Setembro, do Marquês ao Rossio, seremos mais".

A manifestação organizada pelo Chega "contra a imigração descontrolada e insegurança nas ruas" foi convocada em Agosto.

"Com mais de um milhão de imigrantes, a imigração descontrolada continua a ser um grande problema em Portugal. Principalmente porque não temos qualquer tipo de informação sobre muitos dos que cá chegam", referiu o partido em comunicado.

A população estrangeira em Portugal aumentou cerca de 33% no ano passado, totalizando mais de um milhão de imigrantes a viver legalmente no país, segundo um documento apresentado em Junho pelo Governo. De acordo com o executivo PSD/CDS-PP, a maior parte das autorizações de residência atribuídas em Portugal são para o exercício da actividade profissional.

O documento indica ainda que as migrações contribuem para "a revitalização demográfica e o aumento da população activa", tendo a maior parte dos estrangeiros residentes em Portugal entre os 25 e os 44 anos. Estes dados foram apresentados após o Conselho de Ministros em que o executivo aprovou o Plano de Acção para as Migrações.

Na altura, o primeiro-ministro rejeitou "qualquer ligação directa" entre a "capacidade de acolher imigrantes e aumentos de índices de criminalidade".