Em Kiev, Blinken não se compromete com mísseis contra território russo

Joe Biden tinha dito que a Casa Branca está a trabalhar para permitir a autorização à Ucrânia para usar mísseis de longo alcance contra alvos na Rússia.

Foto
Blinken e Lammy chegaram nesta quarta-feira a Kiev para se encontrarem com Zelensky Leon Neal / VIA REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:41

Os aliados ocidentais da Ucrânia estão a ponderar autorizar Kiev a utilizar mísseis de longo alcance para atacar o território russo em profundidade. Os chefes da diplomacia norte-americana e britânica reuniram-se nesta quarta-feira com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Kiev.

O encontro de Antony Blinken e de David Lammy com Zelensky nesta quarta-feira na capital ucraniana é visto como crucial para os esforços da Ucrânia em conseguir persuadir os seus parceiros ocidentais, sobretudo os EUA, a permitir que os mísseis de longo alcance fornecidos às forças ucranianas sejam usados para atacar o território da Federação Russa.

Há meses que a Ucrânia tem apelado aos seus parceiros ocidentais para que seja dada autorização para usar os mísseis de longo alcance – os norte-americanos ATACMS e os franco-britânicos Storm Shadow – para atacar alvos militares na Rússia. No entanto, a relutância dos aliados, sobretudo dos EUA e da Alemanha, tem travado essa decisão, por receio de despertar uma escalada por parte da Rússia no conflito que já leva mais de dois anos e meio.

À chegada à Ucrânia, Blinken apenas disse que pretende “escutar directamente da liderança ucraniana” quais são os seus “objectivos” e o que podem os EUA fazer “para apoiar essas necessidades”.

“Escutar” foi também o verbo utilizado por Lammy para se referir à sua missão na primeira viagem a Kiev desde que foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros. “Estamos aqui para escutar, para perceber o plano, para perceber a estratégia e perceber quais são as necessidades ao longo de uma grande quantidade de frentes”, afirmou numa conferência de imprensa conjunta.

Em termos concretos, Lammy anunciou um pacote de assistência militar no valor de 600 milhões de libras (709 milhões de euros), que até ao final do ano vai garantir o envio de centenas de mísseis antiaéreos, dezenas de milhares de munições de artilharia e mais veículos blindados.

Ao seu lado, Zelensky manifestava um optimismo moderado para as conversações com os chefes da diplomacia norte-americana e britânica. “É uma pena que não dependa do meu optimismo; depende do optimismo deles. Vamos contar com decisões fortes sobre isto”, afirmou.

Antes de Blinken ter embarcado para Kiev, o Presidente norte-americano, Joe Biden, deu um sinal importante de que a linha vermelha fixada contra o uso de mísseis de longo alcance contra o território russo poderá estar a perder força. Questionado sobre se a Casa Branca iria permitir o recurso a este armamento contra alvos russos, Biden respondeu: “Estamos a trabalhar nisso neste momento.”

Na capital ucraniana, no entanto, nada foi adiantado publicamente em relação a esta decisão. Numa entrevista na véspera à Sky News, Blinken manteve uma postura cautelosa e disse que, embora Washington não rejeite totalmente essa opção, o processo será lento. “Nunca excluímos [a possibilidade de autorizar a Ucrânia a atacar alvos na Rússia com mísseis de longo alcance], mas quando decidirmos queremos ter a certeza de que isso é feito de uma forma que possa ajudar a Ucrânia a avançar rumo ao que está a tentar alcançar”, explicou.

O Kremlin voltou a lançar alertas para uma eventual resposta dura por parte da Rússia perante esse cenário. “O envolvimento dos EUA e dos países europeus no conflito com a Ucrânia é directo e cada novo passo aumenta o grau deste envolvimento”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Uma resposta mais enfática veio do presidente da Duma (a câmara baixa do parlamento russo), Viacheslav Volodin, que avisou que Moscovo seria obrigado a usar “armas mais poderosas e destrutivas”, caso a Ucrânia usasse mísseis de longo alcance contra o território russo.

Sem poder ainda celebrar o apagamento de mais uma linha vermelha que condiciona o apoio ocidental ao esforço de guerra ucraniano, Zelensky empenhou-se em falar do seu plano para acabar com a guerra, cujos pormenores não são ainda publicamente conhecidos, mas que pretende apresentar a Biden e aos dois candidatos à Casa Branca ainda neste mês.

“Se os aliados o apoiarem, será mais fácil que a Ucrânia force a Rússia a acabar a guerra”, afirmou.

Sugerir correcção
Ler 17 comentários