“Dori” continua à procura do Brasil

Quarta derrota nos últimos cinco jogos deixa a selecção no quinto lugar do grupo de apuramento para o Mundial de 2026. Dorival não está a convencer como seleccionador.

Foto
Dorival Júnior, treinador do Brasil Andre Coelho / EPA
Ouça este artigo
00:00
03:24

Se a qualificação para o Mundial 2026 fosse um filme da Pixar, poderíamos estar a falar de uma história como “à procura de Dori” ou de “Dori à procura do Brasil” – ambas as premissas são actuais. O seleccionador do Brasil não está a conseguir criar uma boa equipa e o país não está a conseguir encontrar em Dorival Júnior um bom treinador – apesar de ele já ter dito que o selecção vai estar na final do Mundial.

E se a América do Sul não tivesse uma qualificação tão fácil para os Mundiais, o Brasil poderia estar, neste momento, em maior agonia do que está. Vamos ser práticos: a selecção brasileira está dentro dos lugares de apuramento, o Brasil nunca falhou um Mundial desde o primeiro, em 1930, e assim deverá continuar.

Mas o futebol ainda é um pouco mais do que constatações práticas. E esta selecção brasileira não inspira, por estes dias, confiança a ninguém.

Na última madrugada, a equipa somou a quarta derrota nos últimos cinco jogos – e nos últimos seis só venceu um. É mau? É. Mas não deverá colocar em risco o apuramento, porque, na CONMEBOL, dá para quase todos: dos dez apuram-se seis e o sétimo ainda vai a um play-off.

Queriam Carlo, tiveram Dorival

Frente ao Paraguai (1-0), o Brasil fez sete remates – os mesmos que o adversário –, apenas três à baliza e, sobretudo, com um valor modesto de golos esperados: 1,37. E mesmo nos dias em que venceu a equipa apresentou quase sempre versões pálidas de si própria, com triunfos magros e pouco convincentes que fazem desta primeira volta da qualificação a pior da história da selecção.

Para Dorival Júnior, o seleccionador, isto é tudo aquilo de que ele não precisava. Quando foi escolhido, acabou por ser um recurso depois de falhada a contratação de Carlo Ancelotti e de muitos brasileiros “salivarem” por um nome forte, como Jorge Jesus.

Alisson, guarda-redes do Liverpool, acredita que há um factor inerente à mudança de treinador a seguir ao Mundial 2022 e que Dorival não tem tido tempo para treinar. “Nós temos um novo treinador, que não tem nem um ano no comando. Para se criar uma equipa demora tempo, ainda mais aqui na selecção. Nós vimos e ficamos dez dias aqui. Não há muito tempo para treinar. Isto soa sempre como desculpa, mas é a realidade”, apontou.

Alisson não estará propriamente errado, mas essa não é uma sina exclusiva de Dorival, mas de qualquer técnico que oriente uma selecção. Vamos, então, a outra explicação.

Jogadores da Europa

Muitos analistas apontam que a internacionalização da selecção canarinha leva a que haja muitos jogadores inadaptados ao futebol sul-americano. A teoria não é fácil de “comprar” por si só, mas Vinícius, jogador do Real Madrid, até comprou.

“Não podemos vir aqui, perder estes pontos e jogar da maneira que jogámos. O jogo na Europa é mais rápido que aqui. Temos de nos adaptar para jogar da melhor maneira para ganhar jogos”, apontou, após a derrota com o Paraguai, sugerindo que o perfil “europeu” dos jogadores brasileiros está a dificultar o desempenho na qualificação sul-americana.

Se assim for, talvez a qualificação para o Mundial saia mais cara do que seria suposto. Mas, por outro lado, pode deixar o Brasil mais perto do sucesso quando esse Mundial chegar – e sabemos como os brasileiros foram muitas vezes criticados pelo perfil anárquico e pachorrento das suas selecções.

Talvez a europeização da equipa tire, por agora, o que vai devolver mais tarde.

Sugerir correcção
Comentar