Aos 42 anos, Jéssica Augusto termina carreira “na altura ideal”
Detentora da segunda melhor marca portuguesa de sempre na maratona lamenta apenas não ter conseguido despedir-se da modalidades nos Jogos de Paris.
Jéssica Augusto, segunda melhor portuguesa de sempre na maratona, anunciou nesta quarta-feira o fim da carreira "na altura ideal" e com o sentimento de dever cumprido, apesar de ter falhado o objectivo de ter chegado aos Jogos Olímpicos Paris2024.
Em declarações à agência Lusa, a menos de dois meses de fazer 43 anos, Jéssica Augusto considera que "a altura é ideal", embora não tenha sido possível terminar a carreira como desejava, em Paris, naqueles que seriam os seus quartos Jogos Olímpicos.
"O meu objectivo era ter-me conseguido apurar para os Jogos Olímpicos de Paris e terminar lá, mas não foi possível. A vida é diferente, as pernas também já não rendem, nem tenho tanto tempo para treinar, uma vez que já trabalho", afirmou.
Nascida em Paris, Jéssica Augusto diz que vai continuar a correr, vai "estar sempre ligada à modalidade" e fazer o seu "treininho". "Temos de saber sair e sair tem que ser pela porta grande. Foi por isso que eu decidi terminar agora", assumiu.
Após muitos anos ao mais alto nível, Jéssica Augusto assegura que termina a carreira "com o sentimento de dever cumprido", mesmo que assuma que, "olhando para trás, melhorava uma ou outra coisa". "Mas penso que fiz tudo o que estava ao meu alcance para atingir a minha melhor versão e conquistar medalhas. Dei muito de mim, sou muito grata ao desporto e ao atletismo por tudo o que me deu, que me proporcionou e agora está na altura de inspirar os mais novos e passar todo o conhecimento que eu tenho", afirmou.
Segunda melhor portuguesa de sempre na maratona, com 2h24m25s, em Londres, em 2013, a 56 segundos do recorde nacional de Rosa Mota (2h23m29s, em Chicago, em 1985), Jéssica Augusto considera que o seu melhor momento foi o sexto lugar na distância nos Jogos Olímpicos Londres2012, mesmo que tenha tido a sua melhor época em 2010, um ano antes de um dos momentos mais difíceis da sua vida.
"Infelizmente, em 2011, após a minha estreia da maratona, repentinamente fiquei sem pai. Para mim foi o maior golpe que tive na minha vida e que interferiu muito com a minha carreira. Porque eu, após a minha estreia na maratona, achava que nada me ia parar e, passado um mês, sou surpreendida pela morte do meu pai. [...] Acredito que se o meu pai estivesse cá e, se nessa altura, eu não o tivesse perdido e não tivesse sofrido tanto, a minha carreira teria sido melhorzinha um bocadinho", afirmou.
Contudo, "uma boa equipa" à sua volta ajudou-a "a superar esses momentos e chegar a esse sexto lugar nos Jogos Olímpicos de Londres", nos quais conseguiu o terceiro melhor resultado luso na maratona olímpica feminina, apenas superada por Rosa Mota (campeã em Seul1988 e bronze em Los Angeles1984).
Pelo contrário, o seu pior momento surgiu quando foi "última numa eliminatória no Campeonato do Mundo de Helsínquia" nos 5.000 metros, na qual não soube "lidar com a pressão, nem com o facto de correr num estádio cheio".
"Mas tirei muitos ensinamentos dessa fase, dessa prova. Portanto, o meu pior momento a seguir transformou-se nos meus melhores momentos, porque aprendi a lidar com a pressão de outra maneira. A lidar com a frustração, porque uma pessoa vem das camadas mais jovens em que ganhamos tudo. Então, foi esse o momento que me marcou mais, que ainda tenho na minha mente, mas que foi muito bom ter passado por ele, porque cresci e aprendi", recordou.
Embora já treine alguns atletas, Jéssica Augusto vai abraçar um novo projecto no Sporting de Braga, em que vai ser uma das responsáveis técnicas da formação de atletismo, dos sub-10. "Foi um convite que aceitei de bom grado. Tinha recebido outros convites, mas também não fazia sentido eu estar a sair de um clube que me diz muito e que pertence à cidade onde estou a viver", assumiu.
Além do sexto lugar em Londres2012, Jéssica Augusto foi, entre outros títulos, campeã da Europa de corta-mato em 2010, vice-campeã da Europa de 10.000 metros em 2010 e bronze nos 5.000m, e terceira na maratona do Europeu de 2014.
É ainda detentora do recorde nacional nos 3.000 metros obstáculos, com os 9m18,54s cronometrados a 9 de Junho de 2010, na cidade espanhola de Huelva.