Novo Centro de Arte Moderna custou 58 milhões de euros, revela presidente da Gulbenkian

O reforço anti-sísmico e a subida do preço dos materiais provocada pela pandemia e pela guerra da Ucrânia ditaram grandes aumentos de custos.

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O novo Centro de Arte Moderna da Gulbenkian é um projecto do arquitecto japonês Kengo Kuma Rui Gaudêncio
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"O preço total da obra foi de 58 milhões de euros", disse António Feijó, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, à margem da conferência de imprensa de apresentação do renovado Centro de Arte Moderna (CAM), que abrirá ao público em Lisboa na próxima semana, dia 21 de Setembro. "Houve uma série de circunstâncias imprevistas que levaram a um agravamento de custos", explicou o presidente em conversa com o PÚBLICO esta quarta-feira, referindo-se a um orçamento que inclui a renovação e ampliação do CAM, projecto da autoria do arquitecto japonês Kengo Kuma, e os jardins do arquitecto paisagista libanês Vladimir Djurovic.

Quando o projecto vencedor de Kengo Kuma foi apresentado, em 2019, na sequência de um concurso por convites a 12 arquitectos portugueses e estrangeiros, a administração da Gulbenkian, na altura liderada por Isabel Mota, avançou com um valor estimado de dez milhões de euros para o desenvolvimento do novo CAM. Agora, António Feijó esclareceu que nunca houve um orçamento final e que o projecto foi avançando por "tranches cumulativas". "Os dez milhões era numa fase muito inicial."

Para este orçamento final de 58 milhões contribuiu, sobretudo, o "acréscimo" de 7,5 milhões de euros resultante do reforço anti-sísmico. A face mais visível deste reforço são as treliças de grandes dimensões que marcam a estrutura do novo CAM no exterior e no interior, nomeadamente a maior sala de exposições, a chamada "nave principal".

"A guerra [na Ucrânia] e a pandemia", acrescentou o presidente, fizeram subir "o valor dos materiais em 20%, mais de cinco milhões". Depois, os "solos contaminados" encontrados na zona do CAM, e que precedem a construção do edifício original, em 1983, sob projecto do arquitecto britânico Leslie Martin, obrigaram a uma prolongada intervenção de limpeza. "Houve uma interrupção da obra durante nove meses e meio, num acréscimo de 2,5 milhões." Finalmente, a intervenção no jardim custou 3,3 milhões de euros.

Feitas as contas, os imprevistos contabilizados pelo presidente totalizam um acréscimo orçamental superior a 18 milhões de euros. A diferença entre os dez milhões inicialmente anunciados e reportados por vários órgãos de comunicação social e os actuais 58 milhões é de 48 milhões de euros.

Os dez milhões, esclarece numa segunda conversa António Feijó, rejeitando a ideia de uma grande derrapagem nos custos da obra, correspondiam à estimativa que surgiu no concurso de ideias. Ou seja, foi com este valor de referência que terão trabalhado os outros 11 arquitectos, muitos deles portugueses, como Inês Lobo, Patrícia Barbas, Pedro Domingos e os ateliers Aires Mateus, Menos É Mais (Francisco Vieira de Campos + Cristina Guedes) e SAMI (Inês Vieira da Silva + Miguel Vieira).

António Feijó explicou também hoje ao jornal Expresso que a primeira estimativa orçamental aprovada pelo conselho administração foi já de 22,3 milhões. “Em 2020, numa reunião, o conselho de administração fixou o valor em 22,3 milhões”, confirmou o presidente da fundação ao PÚBLICO, numa fase em que o projecto de Kengo Kuma já estaria mais desenvolvido. As alterações ao projecto de arquitectura provocadas pelo reforço sísmico também levaram a uma subida de 6,8 milhões de euros. No final, contando com os imprevistos e as suas consequências no projecto de arquitectura, atinge-se um valor próximo dos 35 milhões de euros, ainda muito longe dos 58 milhões de euros finais.

Notícia actualizada com novas declarações de António Feijó

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