Estudo conclui que medicamento para a obesidade é seguro e eficaz nas crianças

Nenhum medicamento está actualmente aprovado para o tratamento da obesidade em crianças com menos de 12 anos.

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O Saxenda é um medicamento para a perda de peso da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk Jim Vondruska/REUTERS
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O Saxenda, o medicamento para a perda de peso mais antigo da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, ajudou crianças com idades compreendidas entre os seis e os 12 anos a reduzir o seu índice de massa corporal (IMC) em 7,4% num ensaio clínico ao longo de 56 semanas, de acordo com os resultados apresentados nesta quarta-feira.

O estudo patrocinado pela Novo Nordisk foi o primeiro a analisar a segurança e a eficácia de injecções diárias de Saxenda, cuja substância activa é o liraglutido, em crianças pequenas.

Nenhum medicamento está actualmente aprovado para o tratamento da obesidade em crianças com menos de 12 anos, embora o Saxenda tenha sido aprovado para adolescentes em 2020 e para adultos em 2014. A Novo Nordisk disse que solicitou aos reguladores dos EUA e da Europa a expansão da aprovação para incluir as idades envolvidas neste estudo.

O ensaio clínico que incluiu 92 crianças atingiu o seu objectivo principal de redução do IMC para as que tomaram liraglutido, bem como os objectivos secundários, incluindo a perda de peso, em comparação com um placebo.

Os resultados foram apresentados na reunião da Associação Europeia para o Estudo da Diabetes, em Madrid (Espanha), e publicados na revista New England Journal of Medicine.

“Até à data, as crianças não têm tido praticamente nenhuma opção para tratar a obesidade. Foi-lhes dito para 'se esforçarem mais' com dieta e exercício”, afirmou a investigadora principal do estudo, Claudia Fox, do Centro de Obesidade Pediátrica da Faculdade de Medicina da Universidade do Minnesota (EUA).

“Agora, com a possibilidade de um medicamento que trata a fisiologia subjacente à obesidade, há esperança de que as crianças que vivem com obesidade possam ter uma vida mais saudável e produtiva”, acrescentou Claudia Fox.

As crianças que tomaram o medicamento também registaram melhorias no controlo da pressão arterial e da glicemia em comparação com as que receberam um placebo, segundo os investigadores.

O liraglutido, também usado para tratar a diabetes de tipo 2 com o nome comercial Victoza, pertence à primeira geração de medicamentos conhecidos como agonistas dos receptores de GLP-1, que reduzem o apetite e ajudam a controlar o açúcar no sangue. Resulta numa menor perda de peso, em média, do que o mais recente medicamento Wegovy da Novo Nordisk para a obesidade, que foi lançado em 2020 e aprovado para adolescentes com 12 anos ou mais em 2022.

Os especialistas afirmam que o liraglutido foi provavelmente escolhido para o estudo com crianças porque é utilizado há muitos anos e tem um historial de segurança bem estabelecido.

Dado que são necessários tratamentos seguros e eficazes para ajudar as crianças obesas, “parece provável que se realizem mais ensaios neste grupo etário e que estes envolvam a utilização de medicamentos cada vez mais eficazes para a perda de peso”, afirmou Stephen O'Rahilly, professor de bioquímica e medicina na Universidade de Cambridge (Reino Unido).

No ensaio clínico agora descrito, os efeitos secundários gastrointestinais – um problema conhecido dos medicamentos GLP-1 – foram comuns e levaram à interrupção do tratamento em 10% dos participantes antes do final do estudo.