Há 60% de hipóteses de La Niña se formar em 2024 – mas o mundo vai continuar quente

Previsões da Organização Meteorológica Mundial dizem que de Outubro a Fevereiro é provável que se forme o fenómeno oposto ao El Niño. Mas a tendência para o aquecimento do último ano vai dominar.

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Inundações na província de Chiang Rai, na Tailândia, nesta quarta-feira, causadas pelo tufão Yagi Associação de Relações Públicas de Chiang Rai/Sompol Sawanprom / EPA
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Há 60% de hipóteses de se formar o padrão climático La Niña até ao final do ano, estimou a Organização Meteorológica Mundial (OMM), no que foi secundada pelos cálculos dos serviços meteorológicos japoneses. É o fenómeno inverso do El Niño, e caracteriza-se pelo arrefecimento da água à superfície do oceano Pacífico ao nível do equador, bem como por alterações na circulação atmosférica dos trópicos, que provocam cheias e seca em diferentes zonas do planeta.

De Outubro próximo até Fevereiro de 2025, as probabilidades de as actuais condições neutras (nem El Niño nem La Niña) se transformarem em La Niña chegam aos tais 60%. Não há praticamente indícios alguns de que se forme um novo El Niño, diz um comunicado da OMM divulgado nesta quarta-feira.

No entanto, estes fenómenos climáticos cíclicos do nosso planeta estão a acontecer no contexto mais vasto das alterações climáticas causadas pela actividade humana. A temperatura média global está a aumentar, e a água dos oceanos tem no último ano e meio reflectido essa tendência ascendente de uma forma extraordinária.

“Desde Junho de 2023 que estamos a passar por um período prolongado de temperaturas globais de terra e mar excepcionais. Mesmo que se produza um evento La Niña, com um efeito de arrefecimento, não vai alterar a trajectória de longo prazo de subida da temperatura média global devido ao aumento de gases com efeito de estufa na atmosfera, que capturam o calor”, comentou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, citada num comunicado.

Este aquecimento global está a exacerbar fenómenos meteorológicos extremos, como secas e tempestades, e a causar alterações nos padrões de chuva e temperatura que seriam normais para cada estação do ano.

Se os últimos nove anos foram os mais quentes desde que se começaram a fazer registos, isso aconteceu mesmo sob a influência de um episódio de La Niña que durou vários anos, de 2020 até ao início de 2023. O El Niño que se iniciou em Junho de 2023 e teve o pico máximo em Novembro desse ano, até se dissipar em Janeiro deste ano, foi um dos cinco mais fortes desde que há registos. E, embora tenha passado, deixou marcas, sublinhou a cientista argentina.

“Nos últimos três meses, tivemos condições neutras. Mas continuamos a ter condições meteorológicas extremas, incluindo forte calor intenso e chuvas de uma intensidade destruidora”, disse Celeste Saulo.

O fenómeno cíclico El Niño-La Niña não é o motor do sistema climático da Terra. A oscilação do Atlântico Norte, a Oscilação do Árctico e o Dipolo do Oceano Índico são outras correntes oceânicas que influenciam o clima no nosso planeta e, quando analisadas em conjunto, indicam que a água do mar à superfície deve manter-se acima dos valores normais, em todas as bacias oceânicas – excepto no Pacífico equatorial, o que é consistente com a formação de uma La Niña fraca. Por isso, prevê-se a continuação de temperaturas também acima do normal em todas as massas de terra do globo.

Os padrões de chuva estão também alinhados com o que deve ser o impacto do início de uma fase La Niña: precipitação acima do normal no Norte da América do Sul, América Central, Caraíbas, Norte do Corno de África e Sahel, bem como em algumas zonas do Sudeste Asiático, ou outras regiões insulares do oceano Pacífico e Índico, incluindo Indonésia, Bornéu, Papuásia-Nova Guiné, Filipinas.