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Empresa que reduziu a fome no Brasil quer fixar jovens de Portugal no campo
Embrapa fecha parceria com instituições portuguesas para incentivar os jovens a se envolverem com a agricultura. O programa Semear Digital une a tecnologia à produção de alimentos.
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Em Portugal e no Brasil, há um problema semelhante: os jovens abandonam o campo em busca de emprego e melhores condições de vida. Para ajudar a reverter essa situação, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) criou o programa Semear Digital, para garantir que quem trabalha no campo tenha rendimentos, evitando o êxodo para as áreas urbanas.
A Embrapa teve papel importantíssimo para que o Brasil se transformasse em uma potência agrícola. Foi por meio das pesquisas da empresa, nos anos de 1970, que um país tropical, historicamente importador de alimentos, passou a suprir o mundo com sua produção.
O programa Semear Digital chega a Portugal por meio de três instituições portuguesas: a Associação Mobilizar com Valores (MCV), de Braga, o INESC-TEC, do Porto, e a Casa Escola Agrícola Campo Verde (CEACV). O objetivo é dar instrumentos aos pequenos agricultores. “Os grandes e médios produtores já trabalham com agricultura digital. É preciso que os pequenos tenham meios para fazer a transição para poder competir no mercado”, diz Ivan Bergier, pesquisador da Embrapa que está ligado ao Semear Digital.
“O programa nasceu no Brasil com seis instituições que trabalham em conjunto. Não é um projeto, mas um centro de desenvolvimento ligado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)”, afirma Bergier. As seis instituições ligadas ao Semear Digital são o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, a Escola Superior de Agronomia Luís de Queirós, o Instituto Agronômico, o Instituto de Economia Agrícola, o Instituto Nacional de Telecomunicações e a Universidade Federal de Lavras.
A meta é capacitar os agricultores em várias áreas. “O Semear Digital envolve inteligência artificial, novos aplicativos, automação e agricultura de precisão, monitorização do trabalho agrícola pelas redes e internet das coisas. Um exemplo é o uso de tecnologia para a dosagem de insumos, de forma a saber qual a necessidade real. Isso vai ter impacto não só nos custos, mas, também, no meio ambiente”, explica o técnico da Embrapa.
Ponte para Portugal
Segundo o especialista, a associação com as instituições portuguesas foi uma escala num voo mais longo. “O Semear Digital já tem uma perspectiva internacional. Como estava a caminho de Roma para apresentar um trabalho num congresso científico, aproveitei para buscar essa parceria em Portugal”, detalha Bergier.
Ele assinala que a postura da Embrapa não é de simplesmente passar conhecimentos. “O nosso ponto central é o desenvolvimento conjunto de máquinas e tecnologias. Portugal tem algumas regiões com semelhanças em relação ao Brasil. Por exemplo, a produção de café é feita em áreas de declives, como as que encontramos em produções agrícolas portuguesas. Uma máquina desenvolvida para esse ambiente em Portugal poderia ser utilizada no Brasil”, relata.
A ponte com Portugal foi estabelecida por intermédio da McV, na pessoa de Ricardo Figueiredo, funcionário aposentado da Embrapa. “Trabalhei na Embrapa por 20 anos, na área de recursos hídricos na agricultura. Como já conhecia a empresa e estava morando em Portugal, o Ivan Bergier pediu que eu o ajudasse a encontrar parceiros portugueses para o Semear Digital. Inicialmente, houve duas instituições interessadas, o INESC-TEC, da Universidade do Porto, e a CEACV, de Póvoa do Varzim”, relata Figueiredo, que é voluntário na McV.
Ele diz que o programa pode evitar o êxodo rural, um problema que existe tanto no Brasil quanto em Portugal. “É uma oportunidade para jovens se especializarem em agricultura digital e ter uma produção mais competitiva, o que vai ajudar a se fixarem na terra”, acredita.
Chegar à base
Entre os parceiros encontrados, a CEACV tem como característica trabalhar diretamente com quem é o alvo do programa. “A Casa Escola está presente para ajudar o mundo rural. Trabalhamos com jovens para formá-los para a agropecuária”, afirma João Nuno Novaes, membro da comissão permanente da entidade. Além de formação para empresas, a instituição também tem cursos secundários profissionalizantes, normalmente para jovens entre 16 e 18 anos, em três áreas, uma delas, a agrícola.
Novaes acredita no efeito multiplicador que a escola pode ter no processo de digitalização da agricultura. “Temos formação prática em postos de trabalho das empresas agrícolas. Isso pode ajudar a que a proposta do programa Semear Digital chegue às empresas”, avalia.
Uma das grandes dificuldades que encontra em Portugal é popularizar a inovação. “O que acontece é que, nas faculdades, são feitas imensas pesquisas, mas que não chegam às empresas. Nós temos ligações com as empresas e com as associações de agricultores” diz.
Foi a CECV que conseguiu o local para a reunião, onde esperam ter mais instituições portuguesas presentes. A reunião será na sede da Junta de Freguesia de Rates, na Póvoa de Varzim, onde está sediada a escola e está prevista a presença na abertura de Silvia Massruhá, presidente da Embrapa.