Exército do Sudão recusa destacamento de força de manutenção de paz no país

Militares que governam o país dizem que as recomendações da ONU são “o desejo dos inimigos do Sudão”. Guerra civil entre Exército e paramilitares já fez mais de 20 mil mortos.

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Guerra civil entre o Exército e as RSF começou em Abril do ano passado MOHAMED NURELDIN ABDALLAH / REUTERS
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O Exército do Sudão, que controla o Governo, manifestou a sua total rejeição à possibilidade de destacamento de uma força internacional de manutenção de paz no território, de acordo com as recomendações de um grupo de especialistas das Nações Unidas, que admite que possam estar a ser cometidos crimes de guerra e crimes contra a humanidade no país africano.

Num comunicado divulgado no sábado à noite, o Ministério dos Negócios Estrangeiros sudanês diz que “rejeita totalmente as recomendações da Missão Internacional de Investigação Independente [da ONU]”, uma vez que olha para elas como “o desejo dos inimigos do Sudão”.

Por “inimigo”, o Exército sudanês refere-se ao grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF), com quem trava uma guerra civil desde Abril do ano passado, e que apoia o envio de uma “força neutral” para o Sudão que possa “garantir a segurança dos cidadãos.”

No mesmo comunicado, citado pelo jornal Sudan Ajba, o Exército diz ainda que o Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que criou a missão de investigação, é um órgão “político e não jurídico” e acusa os seus membros de “falta de profissionalismo” e de “independência”.

“[Deviam] apoiar o processo nacional, em vez de procurarem impor um mecanismo externo alternativo”, defende o ministério sudanês.

Travada entre as Forças Armadas, lideradas pelo general Abdel Fattah al-Burhane, e as RSF, comandadas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, a guerra civil consumou o corte definitivo com o processo de transição democrática iniciado com o derrube da ditadura de Omar al-Bashir, em 2019, e interrompido com um golpe militar, em 2021.

Segundo a ONU, a guerra civil sudanesa já fez mais de 20 mil mortos, cerca de dez milhões de refugiados e deixou o país a braços com a mais grave crise humanitária da sua História.

Baseado em 182 entrevistas com sobreviventes, familiares e testemunhas, o relatório de 19 páginas da missão de inquérito da organização mundial no Sudão conclui que tanto o Exército sudanês como as RSF foram responsáveis por ataques a civis e recorreram a tortura, violência sexual e detenções arbitrárias.

“A gravidade destas conclusões sublinha a necessidade de uma acção urgente e imediata para proteger os civis”, disse na sexta-feira o presidente da missão, Mohamed Chande Othman, para justificar a recomendação do destacamento imediato de uma força independente e imparcial.

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