Feira ajuda quem tem mais de 45 anos a conseguir um emprego

Feira ocorrerá na praça Carlos Amarante, em Braga, no dia 21 de setembro. Expectativa dos organizadores é de que evento atraia pelo menos 500 pessoas durante seis horas. Especialistas darão dicas.

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Filas em busca de empregos são sempre grandes. Pessoas com mais de 45 anos penam mais para conseguir trabalho Carlos Lopes
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Uma das grandes dificuldades para quem tem mais de 45 anos e perde o emprego é conseguir um novo local de trabalho. Para ajudar as pessoas nessa faixa etária a se recolocar no mercado, a Associação Mobilizar com Valores (MCV) está organizando um evento para colocar em contato quem quer contratar e quem está a procura de uma nova oportunidade.

É a primeira vez que a McV organiza esse tipo de iniciativa em Portugal. A associação, criada no ano passado, é uma instituição sem fins lucrativos e tem como alvo de atuação junto a três grupos que considera vulneráveis na economia portuguesa: os imigrantes e refugiados, os jovens e as pessoas com mais 45 anos, que não conseguem se recolocar em atividades produtivas.

“Normalmente, em Portugal, quando se fala em feira de emprego, as pessoas pensam em estudantes do secundário ou da universidade. Mas conseguir um trabalho a parti dos 45 anos pode ser muito difícil. Algumas pessoas que nos procuram têm 60 anos ou mais e não conseguem uma vaga no mercado”, afirma a pernambucana Cibelli de Almeida, presidente da McV.

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Cibelli Almeida, presidente da Associação Mobilização com Valores, decidiu organizar a feira de empregos ao perceber a vulnerabilidade de imigrantes e asilados Arquivo Pessoal

O modelo usado para a feira de emprego de Braga será o mesmo que foi adotado no Brasil. “Fui presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). Nesta entidade, organizei o primeiro evento de oferta de emprego, um modelo que foi replicado em todos os estados brasileiros”, conta Cibelli.

Ela relata que a última vez que promoveu a feira no Brasil, pelo menos 12 mil pessoas compareceram cheias de esperança de ter uma fonte fixa de renda. “Foi na Praça do Carmo, no Recife. De manhã, quando chegamos lá, já havia 500 pessoas em fila”, lembra.

Com o apoio da prefeitura de Braga, a feira terá sete espaços. O Espaço Qualificação terá palestras a cada 30 minutos sobre como melhorar as capacidades, como se apresentar em uma entrevista de emprego. Já no Espaço Oportunidades, as empresas vão receber currículos — detalhe: já estão confirmadas quatro grandes companhias. No Espaço Legal, por sua vez, advogados voluntários darão orientação jurídica sobre direitos e deveres.

Segundo a organizadora do evento, no Espaço Carreira, os interessados poderão discutir mudança de área de trabalho. No Espaço Orientação Profissional, haverá psicólogos voluntários para ajudar no emocional. Haverá, ainda, o Espaço Empreendedorismo, com conselhos para quem quer iniciar um negócio próprio, e o Espaço Serviço Público, com dicas para quem pretende fazer concursos para o serviço público.

A iniciativa de formar a McV foi de Cibelli. “Estou em Portugal há 13 anos. Vim fazer doutorado na Universidade do Minho em 2011 e acabei ficando”, relata. Atualmente, ela trabalha na área de recursos humanos “Sou consultora da BiBraga, que apoia a imigração profissional e estudantil. No ano passado, comecei a ser procurada por imigrantes e refugiados que não tinham qualquer orientação para conseguir emprego”, diz. Foi a partir daí que surgiu a ideia da associação.

Mesmo com vários brasileiros na associação, o responsável pela feita reforça que o evento não está voltado apenas para quem trocou o Brasil por Portugal. “O objetivo, realmente, é ajudar quem precisa, brasileiros, angolanos, portugueses”, frisa.

Mudança de área

Um exemplo de brasileira com mais de 45 anos que emigrou e não consegue trabalhar na área que pretende é a mineira Sandra Santos, 56 anos, que, antes de se mudar para Portugal, vivia em Porto Velho, Rondônia. Há um ano em terras lusitanas, ela teve que trocar de profissão para sobreviver.

“Fui apresentadora de televisão em programas de sucesso, e também trabalhei em rádio, além de ser chefe do cerimonial da prefeitura de Porto Velho”, relata Sandra.

Com os filhos crescidos e querendo mudar de vida, tomou uma decisão. “Sempre pensei em morar na Europa. Quando fiquei sem esse trabalho, um amigo que mora em Portugal me disse: ou eu me mudava naquele momento ou ficaria difícil”, lembra.

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Sandra Santos, que foi apresentadora de televisão no Brasil e, atualmente, trabalha como cuidadora de idosos Arquivo Pessoal

Sem conseguir trabalhar na área dela, optou por outra. “Hoje, cuido de idosos. Primeiro, foi numa residência, agora, cuido de uma senhora em Oeiras (a 12 quilômetros de Lisboa)”, diz.

O sonho dela é migrar para outra área no mercado. “Gostaria de trabalhar com turismo, receber brasileiros, mostrar os lugares de Portugal. Gosto de conhecer pessoas. Só que não há oportunidades na área”, afirma.

Já o carioca Pedro Dale, 47, tem uma situação mais complicada. Há dois anos e quatro meses em Portugal, está sem emprego fixo. “Saí do Brasil em 2013. Vim para Portugal depois de nove anos em Dubai. Tinha um supertrabalho, sou especializado em marketing digital. Trabalhei em grandes empresas. Foi por meio de uma delas que me mudei para Dubai”, relata.

A opção pode viver em Portugal teve como meta a educação dos filhos. “Já estava há nove anos no Dubai, e meus filhos tinham 12 e 14 anos. Eles estavam numa bolha. O objetivo era que eles ficassem expostos à vida real, como, por exemplo, pegar um ônibus, um trem, fossem para a praia” explica.

Dale ainda teve um emprego a partir de Portugal: “Quando cheguei, consegui um trabalho remoto numa empresa no exterior de software. Mas, em outubro de 2023, houve uma demissão global de milhares de trabalhadores, e fui despedido”, ressalta.

Com um currículo bom, ele acreditava que não ficaria muito tempo sem trabalho. “Enviei dezenas de currículos, inclusive, alguns cuja descrição da vaga se encaixava como uma luva no meu perfil, mas não consegui. Muitas vezes nem tive resposta", lamenta.

Atualmente, Dale desistiu de sair em busca de uma nova oportunidade. Faz alguns projetos de consultoria para Brasil, Emirados Árabes e Paquistão, países com os quais já trabalhou. Mas quer algo mais efetivo.

Como tentar trabalho

Para especialistas em recursos humanos, há alguns passos fundamentais para se conseguir um emprego a partir dos 45 anos. O primeiro é definir a área em que se quer trabalhar, que pode não ser a mesma de empregos anteriores. “Aquilo que sabem fazer ou fizeram durante anos vale pouco no mercado”, afirma Jorge Fonseca, especializado em assessoria de mudança de carreira.

Outro problema que Fonseca encontra está na forma como as pessoas se apresentam quando se deparam com alguma oportunidade. “Algumas pessoas têm um currículo pouco apelativo”, diz. Isso retrai o outro lado que está contratando.

Denise Swerts, que, no Brasil, trabalhou numa emissora de televisão e, atualmente, é voluntária na McV, enfatiza a necessidade de se preparar um bom currículo. “O currículo tem como objetivo apenas criar pontes para a entrevista. A pessoa tem que conseguir que a sua história profissional seja atrativa o suficiente para ser chamada para a entrevista”, explica.

Ela diz que o currículo tem que despertar a atenção de quem quer contratar. “O importante no currículo é utilizar a criatividade”, aconselha. Ela sugere a utilização de programas como o Canva, o Powerpoint ou os modelos que o Word oferece para ter algo que diferencie o candidato a emprego.

Uma das recomendações que Denise faz é que, quem procura emprego, tenha um currículo master e adapte conforme as necessidades da vaga a que está concorrendo. “Geralmente, as pessoas de mais de 45 anos têm uma experiência muito ampla. Não é necessário falar de todas as experiências”, afirma. Ela sugere deixar os detalhes para a entrevista.

Outra dica que ela dá aos que procuram trabalho é ser capaz de mostrar que está falando a verdade. “Não adianta dizer apenas que tem experiência. É necessário relatar com algum detalhe essa experiência. Se for perguntado se sabe trabalhar em equipe, não basta responder sim ou não, mas ter exemplos concretos para apresentar ao entrevistador”, exemplifica.

Denise considera que um passo importante é a preparação para a entrevista. “Precisa ter conhecimento da empresa. Fazer pesquisa no site da companhia, saber o que ela faz, qual a visão de futuro e relatar como pode contribuir com a empresa. Se tiver dúvidas, leve-as para a entrevista” exemplifica.

Outros conselhos incluem chegar com antecedência à entrevista de trabalho e, em todas as respostas, procurar ter equilíbrio, não falar demais nem de menos, ter objetividade.

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