Baleia “espiã russa” que se tornou uma celebridade pode ter sido abatida a tiro

Organizações de direitos dos animais dizem ter “provas convincentes” de que Hvaldimir foi vítima de um crime. Resultados da necropsia ainda não foram divulgados.

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Hvaldimir, a famosa baleia suspeita de ser "espiã russa", terá sido abatida a tiro Jorgen Ree Wiig/Direcção Norueguesa de Pescas
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Hvaldimir, a baleia branca que há cinco anos ganhou uma inusitada fama mundial por suspeitas de integrar a espionagem russa, foi encontrada morta no sábado passado numa baía do Mar do Norte junto à costa da Noruega. Agora, duas organizações de defesa dos animais alegam que foi abatida a tiro e pedem à polícia norueguesa que abra uma investigação.

O corpo da baleia, a que também se pode chamar beluga, estava a “flutuar pacificamente na água” quando os membros da Marine Mind a encontraram. Foi esta organização criada especificamente para acompanhar e proteger Hvaldimir que divulgou a sua morte, acrescentando em comunicado que “será feita uma necropsia para se determinar a causa de morte”.

A OneWhale, outra organização que também nasceu na sequência do primeiro avistamento da beluga em águas norueguesas, em 2019, diz que a morte de Hvaldimir teve mão criminosa. Com base em “provas convincentes” e numa “análise preliminar”, esta entidade juntou-se à NOAH, organização de defesa dos animais da Noruega, para pedir “o envolvimento policial imediato” no caso.

“A baleia foi morta por ferimentos de bala. Vários veterinários, biólogos e especialistas balísticos analisaram provas fotográficas, incluindo dos ferimentos de Hvaldimir a curta distância. As suas avaliações indiciam fortemente que a morte da baleia foi um acto criminoso”, denunciou a OneWhale em comunicado.

Um superintendente da polícia norueguesa confirmou à CNN que foi recebida uma queixa, mas as autoridades ainda não se decidiram sobre a abertura de uma investigação formal. “Penso que nunca tivemos um caso como este”, admitiu Victor Fenne-Jensen.

Regina Haug, fundadora da OneWhale, afirmou ao The Washington Post que viu pessoalmente os ferimentos da beluga e “uma bala alojada no corpo”. Segundo esta californiana que dedicou uma parte significativa dos últimos cinco anos da sua vida a Hvaldimir, não era raro ouvir noruegueses comentar que a presença da baleia naquelas águas criava incómodo às actividades marítimas. “Se não fosse atingida por uma hélice [de um barco], levava um tiro”, disse Haug, referindo-se ao que ouviu dizer.

A Marine Mind, pelo contrário, distanciou-se destas alegações. “O Instituto Veterinário ainda não divulgou os resultados das suas investigações”, escreveu a organização no Facebook. “É importante pararmos com a especulação até que o instituto conclua o seu trabalho. Até lá, esperamos que as pessoas se atenham aos factos conhecidos.”

A Noruega é um dos apenas três países do mundo – com Japão e Islândia – que autorizam a caça à baleia e onde a actividade baleeira mantém alguma importância económica. Para 2024, o Governo norueguês autorizou o abate de 1157 baleias, apesar de repetidos apelos para que a prática seja banida. A beluga não é uma espécie capturada, mas a teoria da OneWhale é que a presença assídua de Hvaldimir junto a barcos e a instalações de aquacultura a pôs em risco num país em que os crimes contra a vida selvagem são desvalorizados.

O corpo da baleia foi encontrado na baía de Risavika, perto da cidade de Stavanger. É muito mais a sul do que quando foi avistada pela primeira vez, na região nortenha de Finnmark, já dentro do Círculo Polar Árctico. Foi em 2019 e apareceu com um arnês em que estava escrito “Equipamento São Petersburgo”, o que imediatamente levou à teoria de que podia ter sido treinada pelos serviços secretos russos para acções de espionagem. O treino de belugas para operações militares, até por países como os Estados Unidos, não é uma novidade. O Kremlin nunca comentou as notícias sobre Hvaldimir – baptizada com a junção da palavra “baleia” em norueguês (hval) e o nome do Presidente russo.

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