Ministro admite que ano lectivo vai arrancar com milhares de alunos sem aulas

A actual escassez de professores não é alheia ao facto de estes terem sido “desvalorizados” durante muitos anos, disse Fernando Alexandre. Carreira docente vai começar a ser revista em Outubro.

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Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação, reiterou o objectivo de reduzir em 90% os 20 mil alunos que não tiveram professor a pelo menos uma disciplina no primeiro período do ano lectivo anterior Daniel Rocha (arquivo)
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O ministro da Educação, Fernando Alexandre, admitiu nesta sexta-feira que o novo ano lectivo vai arrancar com "milhares de alunos sem aulas", sublinhando que se trata de uma "falha grave" da escola pública que o Governo quer resolver até ao final da legislatura. Em declarações aos jornalistas em Barcelos, distrito de Braga, onde participou num seminário de abertura do ano escolar, Fernando Alexandre não concretizou o número de alunos sem professor no início do ano lectivo, adiantando que as contas serão feitas mais tarde.

O governante sustentou, no entanto, que o concurso de professores lançado pelo anterior Governo não só não resolveu o problema, como "provavelmente agravou-o".

"Continuamos a ter milhares de alunos sem aulas e estamos a tomar medidas que, antecipando os problemas que tínhamos, começámos a preparar logo em Junho. Ontem anunciámos mais uma medida e na próxima semana haverá mais medidas", referiu Fernando Alexandre. Considerando que "não é aceitável que em 2024 haja milhares de alunos sem aulas em Portugal", o governante reiterou o compromisso de reduzir, já este ano, em 90 por cento, os 20 mil alunos que não tiveram professor a pelo menos uma disciplina no primeiro período do ano lectivo anterior.

Para isso, e além das medidas tomadas pelo Governo, o ministro considerou que os directores das escolas também terão "um papel essencial", já que "há uma dimensão significativa do problema que resulta da gestão, seja da organização dos horários ou da capacidade da contratação das próprias escolas".

"Só podemos fazer as contas no final", insistiu, sublinhando que o Governo está a trabalhar "todos os dias para que o ano lectivo decorra com a maior normalidade possível", mas admitindo que "um problema estrutural que se agravou nos últimos oito anos não se resolve de um momento para o outro".

De acordo com as contas divulgadas quinta-feira pelo movimento Missão Escola Pública, o ano lectivo deverá arrancar no dia 12 com perto de 200 mil alunos sem pelo menos um professor, devendo haver no Sul do país e em Lisboa disciplinas fundamentais que não vão ter professores disponíveis.

Fernando Alexandre disse que serão anunciados na próxima semana os termos em que será aplicado o subsídio à deslocação dos professores, bem como os termos do concurso extraordinário para as escolas em que há alunos sem professores. "Isto é uma inovação, ou seja, nós vamos fazer um concurso de professores para determinadas zonas para vinculação de professores e vamos dar um subsídio", frisou. O Governo está a negociar com os sindicatos os termos do concurso e do apoio, estando prevista para segunda-feira uma nova reunião negocial.

O ministro disse ainda que há "umas centenas" de professores aposentados que já "manifestaram interesse" em voltar a leccionar, ajudando assim também a resolver o problema. No entanto, alertou que o problema de alunos sem professores não se resolve num ano. "O compromisso do Governo é até ao final da legislatura resolvermos o problema dos alunos sem aulas. Isto é uma falha grave da escola pública que nós temos de corrigir, mas que nos últimos anos foi simplesmente ignorada", disse ainda.

Carreira de professor revista em Outubro

Para Fernando Alexandre, a actual escassez de professores não é alheia ao facto de a carreira de professor em Portugal ter sido "desvalorizada durante muitos anos", o que levou milhares de docentes a abandonar a profissão e a optar por outras actividades mais compensadoras financeiramente. "Para ganharem mil e tal euros, ficam perto de casa e fazem outra coisa", descreveu, referindo-se concretamente a "milhares de professores" que nos últimos anos deixaram o ensino e enveredaram pela mediação imobiliária.

"O que o país fez aos professores é um bocadinho inexplicável, a carreira foi mesmo desvalorizada. Temos hoje uma carreira que não faz sentido nenhum", sublinhou. O resultado é que, ao contrário do que aconteceu durante muitos anos, hoje as pessoas já não querem ser professores, lamentou. Para inverter essa situação, o Governo diz que pretende começar, em Outubro, a rever a carreira de professor.

Na sua intervenção, Fernando Alexandre disse ainda que Portugal continua a ter "falhas graves" na universalização do acesso à educação, um problema que o Governo quer corrigir. E sublinhou a necessidade de as escolas saberem acolher e incluir os alunos imigrantes, que estão a fazer aumentar o número de alunos em Portugal. "A Europa toda precisa dos imigrantes e é bom que a sociedade portuguesa perceba isso", referiu.