ONU alerta para “situação para lá de catastrófica” em Gaza

Mais de um milhão de pessoas no Sul e Centro do território não receberam alimentos através de organizações humanitárias em Agosto.

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Deslocados num campo em Khan Yunis, no Sul. A distribuição alimentar está dificultada pelo grande número de ordens de evacuação do Exército de Israel HAITHAM IMAD / EPA
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A situação humanitária na Faixa de Gaza atingiu um ponto “para lá de catastrófico”, disse o porta-voz das Nações Unidas Stéphane Dujarric, com mais de um milhão de palestinianos a não receberem quaisquer cabazes de alimentos das organizações em Agosto e uma queda de 35% no número de famílias a receber refeições cozinhadas.

A grande redução de refeições cozinhadas deveu-se, segundo o porta-voz de António Guterres, o secretário-geral da ONU, às várias ordens de evacuação do Exército de Israel que obrigaram 70 destas cozinhas a suspender os seus serviços ou relocalizar-se.

“Continuamos sem ter as condições necessárias para ajudar as pessoas do modo em que necessitam”, declarou ainda Dujarric, acrescentando que pelo segundo mês consecutivo não haverá alimentos suficientes para as necessidades, e em Setembro as famílias no Centro e Sul de Gaza receberão apenas um pacote de alimentos.

Face à escassez e ao efeito da ofensiva militar israelita que afectou também terrenos agrícolas e a produção própria de alimentos, o preço de bens alimentares na Faixa de Gaza é incomportável para muitas pessoas – num mercado do Norte do território, por exemplo, três batatas custam o equivalente a 36 euros (há um ano, o preço era de cerca de 50 cêntimos).

A directora de operações do OCHA (Gabinete da Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU) Edem Wosornu mencionou o número de trabalhadores humanitários mortos no território: 295 desde 7 de Outubro, ataque que dificultam ainda mais a entrega de ajuda humanitária, tendo mesmo levado o Programa Alimentar Mundial (PAM) a suspender deslocações depois de um ataque a uma coluna da organização a 28 de Agosto.

Wosornu falava esta quarta-feira ao Conselho de Segurança da ONU e mencionou vítimas dos lados palestiniano e israelita, os reféns israelitas em Gaza e os palestinianos em prisões israelitas. “Os mais recentes desenvolvimentos em Gaza e na Cisjordânia levam-nos a reafirmar, ainda mais uma vez, o valor igual de cada vida humana”, declarou.

Acesso de media internacionais

Já Dujarric notou ainda que em 11 meses de guerra, Israel não permitiu a entrada de media internacionais na Faixa de Gaza.

A falta de acesso ao território por jornalistas internacionais foi um dos aspectos focados numa carta de 60 associações sindicais e organizações europeias de jornalistas de países como Espanha, Luxemburgo, França, Finlândia, Bélgica, Dinamarca, Croácia, Alemanha e Portugal, segundo um comunicado do Sindicato de Jornalistas portugueses, que assinou o documento.

Se é normal que haja algumas restrições em tempo de guerra, a situação actual em Gaza “não tem precedentes nos tempos modernos”, já que apesar da emissão de quase 2800 credenciais de jornalistas para Israel desde o início do conflito, muito poucos jornalistas tiveram autorização de entrar na Faixa de Gaza, “todos sob escolta militar israelita e com restrições no seu trabalho”.

As organizações falam da morte de mais de 100 jornalistas em Gaza, número sem precedentes em termos de mortes de jornalistas em guerras e conflitos, e citam uma investigação do Comité para a Protecção de Jornalistas (CPJ) indicando que pelo menos cinco das mortes de jornalistas foram assassínios selectivos, estando outras dez mortes de jornalistas a ser investigadas.

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