Homem que participou nos motins racistas no Reino Unido condenado a nove anos de prisão

Birley, de 27 anos, tentou incendiar um hotel em Rotherham onde estavam alojados requerentes de asilo. Das cerca de 1300 pessoas detidas por causa da violência, perto de 250 receberam ordem de prisão.

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Cerca de 400 pessoas cercaram e atacaram um hotel que alojava migrantes no Norte de Inglaterra no dia 4 de Agosto Stringer / REUTERS
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A Justiça britânica decretou esta sexta-feira a punição mais pesada até ao momento no âmbito dos motins racistas e violentos ocorridos em várias cidades do Reino Unido durante a primeira quinzena de Agosto. Thomas Birley, um pintor e decorador de 27 anos, foi condenado a nove anos de prisão, por ter tentado incendiar um hotel que alojava requerentes de asilo em Manvers, perto da localidade inglesa de Rotherham, no Norte do país.

Birley declarou-se culpado pelos crimes de desordem violenta e de posse “arma ofensiva”, admitindo ter posto madeira dentro de um contentor de lixo em chamas que tinha sido posicionado junto à entrada do hotel para bloquear o acesso, pondo os funcionários do estabelecimento em risco de vida.

Para além disso, assumiu que ajudou outros amotinados a pôr um segundo contentor em cima do que já estava a arder e atirou objectos contra a polícia.

Segundo o Ministério Público, os 22 membros do staff que tiveram de se barricar numa “sala de pânico” quando cerca de 400 pessoas cercaram e atacaram a unidade hoteleira “pensaram que iam ser queimados vivos”. Sessenta e quatro polícias ficaram feridos enquanto tentavam evitar uma tragédia ainda maior.

Citado pela Reuters, o juiz Jeremy Richardson, do Tribunal de Sheffield, disse que Birley, encorajado por “mensagens maliciosas e ignorantes” nas redes sociais, foi “um dos principais participantes nas tentativas ignorantes e racistas” de impor um controlo popular do local do crime à margem da lei.

O magistrado acrescentou ainda que o comportamento de Birley naquele dia 4 de Agosto estava “impregnado de racismo do princípio ao fim”.

Violência e desinformação

Cerca de 1300 pessoas foram detidas e foram feitas mais de 860 acusações desde o dia 29 de Julho por envolvimento nos protestos violentos e nos motins racistas e anti-imigração – a maioria promovidos, liderados e protagonizados por grupos de extrema-direita, como o anti-islão English Defence League – em diferentes zonas e localidades do Reino Unido.

Para além dos edifícios onde estavam alojados requerentes de asilo, também foram atacadas e ameaçadas mesquitas e centros de refugiados. No meio da confusão, pilharam-se ainda estabelecimentos comerciais e foram queimados veículos e contentores de lixo estacionados nas ruas.

Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, apontou firmemente o dedo a grupos neonazis e de extrema-direita e prometeu duras penas para os participantes nos motins em cidades como Londres, Manchester, Liverpool, Bristol, Sunderland ou Belfast.

A onda de violência teve origem na propagação de notícias falsas e de desinformação nas redes sociais sobre a identidade de um jovem de 17 anos, natural de Cardiff (País de Gales), que matou três crianças – incluindo a portuguesa Alice Aguiar, de nove anos – num encontro de fãs da cantora norte-americana Taylor Swift em Southport, no dia 29 de Julho.

Perante os rumores crescentes de que o autor do crime seria muçulmano e filho de refugiados, e numa altura em que políticos da direita radical, como Nigel Farage, deputado e líder do Reform UK, sugeriam publicamente que as autoridades podiam estar a “esconder” a “verdade”, a polícia de Merseyside alertou a população contra a disseminação da desinformação online, lembrando que não podia revelar a identidade do sujeito em causa por se tratar de um menor de idade.

Três dias depois do ataque, em nome do “interesse público” e para impedir que “pessoas com intenções maliciosas continuem a espalhar informações erradas”, um juiz de Liverpool acabou por identificar o autor como Axel Muganwa Rudakubana, filho de pais ruandeses e diagnosticado com perturbação do espectro do autismo. Ao longo das duas semanas seguintes, porém, e mesmo depois dos familiares das vítimas de Southport terem apelado ao fim da desordem, os motins continuaram.

Segundo a BBC, há cerca de 400 pessoas acusadas pelo crime de desordem violenta e perto de 250 já foram condenadas a penas de prisão. Com Thomas Birley a liderar a tabela da sentença mais dura até ao momento, seguem-se David Wilkinson, de 48 anos (seis anos de prisão) e John Honey, de 25 (quatro anos e oito meses de prisão).

A pessoa mais nova a ser condenada pelo envolvimento nos motins do Verão é um rapaz de 12 anos e a mais velha tem 69 anos. Mas pessoa mais velha a ser acusada, que ainda aguarda a decisão da Justiça, é um homem de 81 anos, indiciado por comportamento ameaçador com intenção de provocar violência.

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