Esquerda acusa Macron de nomear governo dependente da União Nacional de Le Pen
União Nacional recusa hipótese de apoio e reafirma-se como oposição, apesar de não rejeitar imediatamente o governo de Michel Barnier, nomeado na quinta-feira.
A Nova Frente Popular, coligação que une os partidos de esquerda em França, acusou o Presidente Emmanuel Macron de ignorar os resultados das eleições legislativas e nomear um governo, liderado por Michel Barnier, que depende do apoio da União Nacional, partido da extrema-direita de Marine Le Pen, chefiado por Jordan Bardella.
Num comunicado conjunto partilhado na rede social X, os líderes dos principais partidos da Nova Frente Popular e a candidata Lucie Castets disseram que Macron "reafirmou o seu desprezo total pelos milhões de franceses que se deslocaram em massa às urnas" e "optou por nomear um primeiro-ministro dependente do apoio da União Nacional e que "vem de um partido que obteve 5,41% nas eleições ", referindo-se a Os Republicanos, partido de Michel Barnier.
À rádio francesa RTL, a candidata Lucie Castets acusa mesmo Macron de se colocar "em coabitação" – termo usado em França quando o Presidente e o primeiro-ministro não são do mesmo campo político – com a União Nacional.
"Temos um primeiro-ministro completamente dependente da União Nacional", sublinhou Castets, que acrescentou que "o Governo Barnier depende da boa vontade da União Nacional, quer esta vote ou não a favor da [moção de] censura".
"Estou muito zangada, tal como milhões de eleitores franceses que se sentem traídos pela decisão do Presidente da República. Esperámos 59 dias, e tudo para isto", disse ainda.
O secretário-geral do Partido Socialista, Olivier Faure, acusou Macron de se colocar "sob o controlo da extrema-direita" e garantiu que "nenhuma personalidade do PS entrará neste governo", em declarações à rádio France Inter.
Já o coordenador da França Insubmissa, Manuel Bompard, afirmou que este é um "governo Macron-Le Pen" que "só pode ver a luz do dia porque a União Nacional decidiu dar-lhe a sua bênção".
"Isto é extremamente grave, porque todas as pessoas que se mobilizaram para impedir a tomada do poder pela extrema-direita foram hoje traídas pelo Presidente", acrescentou Bompard à BFM-TV.
Sacha Houlié, antigo membro do partido de Macron e actualmente deputado independente, acredita que "Marine Le Pen vai manter Barnier sob a mira de uma arma", afirmou em declarações ao Le Monde.
"Esta nomeação justifica-se pela estabilidade de um governo dependente da boa vontade da União Nacional", sublinha Houlié.
Para este sábado está marcada uma manifestação "contra o golpe presidencial" e "pela democracia", convocada por duas organizações estudantis e apoiada pela França Insubmissa.
A manifestação contará, para além da já mencionada França Insubmissa, com todos os outros partidos da Nova Frente Popular menos o Partido Socialista, que não participará directamente mas que terá algumas secções locais a participar, segundo os responsáveis da União Estudantil, que está a organizar os protestos.
Extrema-direita afasta-se e nega apoio ao governo
Apesar de Marine Le Pen ter afirmado que não iria censurar, numa primeira instância, o Governo de Barnier, Laurent Jacobelli, deputado da União Nacional, afirma que o partido se iria manter na oposição.
"Queremos que os nossos eleitores sejam respeitados, estamos na oposição e não damos carta-branca a ninguém", sublinhou o deputado à estação de televisão France 2, que acrescentou que recusaria um cargo no Governo de Barnier, caso fosse convidado.
O deputado Sebastien Chenu, à estação de televisão CNews, disse que é muito difícil que a União vote favoravelmente a um orçamento do Estado nomeado por este executivo, importante passo para definir as possibilidades de sobrevivência do Governo a longo prazo.
"Parece-me muito pouco concebível que a União Nacional vote a favor do orçamento", afirmou Chenu, lembrando que, "até agora", nunca tinham votado um orçamento e, por isso,"Michel Barnier e Emmanuel Macron vão ter de fazer uma viragem de 180 graus", se querem ter o apoio da União Nacional.
Numa mensagem enviada aos deputados do grupo macronista Juntos pela República, o actual líder parlamentar e antigo primeiro-ministro Gabriel Attal não exclui uma participação directa do partido no Governo mas garante que o apoio não será "incondicional".
"Encontrei-me com o primeiro-ministro esta manhã. De acordo com as nossas discussões, falei com ele sobre as condições em que o nosso grupo pode participar no trabalho que o país tem pela frente", escreveu o líder parlamentar dos macronistas.
"Da nossa parte, não haverá vontade de bloquear, nem apoio incondicional: guiar-nos-emos apenas pelo desejo de sermos úteis ao nosso país e fiéis aos nossos valores", sublinhou Attal, numa mensagem divulgada pela agência AFP.