Após negociações com os EUA, Nicarágua expulsa 135 presos políticos para a Guatemala
Governo de Ortega aproveitou pressão americana para libertar 13 pastores evangélicos e juntou mais 122 presos políticos ao grupo agora expatriado.
Os Estados Unidos garantiram a libertação de dezenas de presos políticos na Nicarágua na quinta-feira, após conversações com o governo do Presidente Daniel Ortega, que nos últimos anos tem expulsado com frequência pessoas que considera hostis ao seu governo.
A operação foi conduzida sob total sigilo e confidencialidade por parte da embaixada de Washington em Manágua, escreve o El País. Só depois a Casa Branca anunciou que 135 prisioneiros foram libertados da prisão por razões humanitárias, acrescentando que irão para a Guatemala antes de seguirem para os Estados Unidos ou outros países.
“Hoje [quinta-feira], a Administração Biden e Harris conseguiu a libertação de 135 presos políticos detidos injustamente na Nicarágua, por razões humanitárias. Ninguém deve ser preso por exercer pacificamente os seus direitos fundamentais de liberdade de expressão, associação e prática da sua religião”, afirma o comunicado de imprensa assinado por Jake Sullivan , conselheiro de Segurança Nacional.
Desde 2018, o governo de Ortega intensificou a repressão contra os seus opositores políticos internos, prendendo e encarcerando críticos sob acusações que incluem conspiração e traição, e retirando a muitos a sua cidadania. A vice-presidente Rosario Murillo, porta-voz do governo e esposa de Ortega, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Reuters sobre a última libertação de prisioneiros.
A libertação e expulsão de quinta-feira segue-se a "meses de negociações entre os EUA e a Nicarágua", disseram os Estados Unidos e a Guatemala numa declaração conjunta, citada pela Reuters.
Segundo o El País, houve pressão de várias entidades norte-americanas, incluindo o Congresso dos EUA, para conseguir a libertação de 13 pastores da Puertas de la Montaña, uma organização evangélica com sede no Texas. Tinham sido detidos em Dezembro passado e foram condenados no início deste ano sob a acusação de branqueamento de capitais.
O regime concordou em libertá-los e a outras 122 pessoas, entre eles leigos católicos e estudantes ligados àquela organização evangélica, mas todos cidadãos nicaraguenses. “Foi uma decisão unilateral deles aumentar a lista”, disse Sullivan.
Eric Jacobstein, um diplomata sénior dos EUA para os Assuntos do Hemisfério Ocidental que esteve envolvido nas negociações, esteve na Cidade da Guatemala para cumprimentar alguns dos prisioneiros libertados e disse que Washington continuaria a pressionar Manágua para respeitar os direitos humanos.
"Uma reacção pessoal que tive ao conversar com alguns destes indivíduos é a verdadeira mesquinhez e crueldade do regime", disse, numa conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Guatemala. Jacobstein acrescentou que a Casa Branca escolheu a Guatemala como destino dos 135 presos políticos porque o Governo Arévalo tem um compromisso com a democracia e mantém “liderança contínua na região”.
A libertação de prisioneiros segue-se a uma maior no ano passado, quando mais de 200 indivíduos foram levados para os EUA, incluindo ex-candidatos presidenciais da oposição que tentaram desafiar Ortega na sua candidatura à reeleição em 2021.
Em Janeiro, a Nicarágua também expulsou 19 membros do clero católico para o Vaticano, incluindo o crítico mais proeminente de Ortega, o bispo Rolando Alvarez. Este tinha sido anteriormente condenado por traição e sentenciado a uma pena de 26 anos de prisão.
No início desta semana, um relatório das Nações Unidas detalhou os alegados crimes cometidos pelo governo de Ortega no ano passado, incluindo uma nova onda de detenções arbitrárias e tortura.