Detectados 347 casos de doença hemorrágica em explorações de gado

Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária anunciou ainda a identificação de 18 animais mortos em todo o país desde meados de Julho. Há 171 explorações de gado afectadas.

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Mais de 300 casos de infecção por doença hemorrágica já foram identificados em Portugal no último mês e meio Tiago Lopes
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A Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) anunciou esta sexta-feira a existência 347 casos registados de doença hemorrágica epizoótica em 171 explorações de gado, além do registo de 18 animais mortos em todo o país, desde 17 de Julho.

De acordo com o último relatório da DGAV emitido na quinta-feira, a região mais afectada é o Norte, com destaque para o distrito de Bragança, que contabiliza 121 explorações afectadas, 288 animais contaminados pela doença hemorrágica epizoótica (DHE) e 18 mortes registadas, onde sobressaem os concelhos de Vinhais, Bragança e Miranda do Douro. O primeiro foco de DHE em 2024 foi detectado no concelho de Vinhais (Bragança) a 17 de Julho.

Segue-se o distrito de Vila Real com 20 explorações com casos positivos para DHE e 22 bovinos afectados, com destaque para os concelhos de Boticas, Mondim de Basto, Montalegre, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar e Vila Real. Já o distrito de Braga apresenta 18 explorações afectadas e 22 casos.

Viana do Castelo tem cinco explorações afectadas com um total de cinco casos positivos para DHE. Também no distrito de Leiria foi registada a morte de uma vaca contaminada com o vírus. No distrito de Bragança há ainda uma exploração de veados afectada, com o registo de três animais contaminados, visto que a DHE também ataca os cervídeos.

O relatório de casos de infecção ou morte por DHE é actualizado todas as semanas. Em declarações à Lusa, a directora-geral de Alimentação e Veterinária, Susana Pombo, disse que a DHE apareceu pela primeira vez em 2023 e, como é transmitida por um vector [mosquito], está muito associada às altas temperaturas que se têm feito sentir.

“Este ano temos uma situação [epidemiológica] diferente, relativamente ao ano passado porque a indústria farmacêutica disponibiliza uma vacina autorizada pela DGAV para utilização temporária pelo prazo de um ano, cuja data de comercialização teve início na passada quinta-feira”, indicou.

Doença tem tratamento

Susana Pombo acrescentou ainda que a DGAV já actualizou o seu edital, sendo que “esta vacina é de aplicação voluntária por parte dos produtores pecuários”. A responsável pela DGAV disse ainda que “qualquer médico veterinário com cédula profissional activa pode prescrever a vacina contra a DHE”​.

Susana Pombo apelou ainda à utilização de desinsectização, já que o veículo transmissível da doença é um mosquito. “Os animais devem ser vistos todos os dias porque a doença tem tratamento, mas quanto mais depressa se actuar melhor”, vincou.

A responsável alertou ainda que a DHE só afecta animais e não é transmissível a humanos. “​Atualmente a vacina existente está rotulada em espanhol, mas o próximo lote a chegar a Portugal, e que será brevemente, já virá rotulado em português”, disse.

A DGAV informou ainda, através de edital, que os animais com sinais clínicos de DHE não podem ser movimentados.

Os principais sintomas da DHE registados nos bovinos são coxeia, falta de apetite e úlceras na boca, uma situação que provoca a degradação do estado de saúde dos bovinos e que os pode “levar à morte”, indicou à Lusa o secretário técnico da Associação de Criadores de Raça Bovina Mirandesa, Válter Raposo.

Este responsável já havia alertado na passada quinta-feira para o regresso do vírus DHE ao Nordeste Transmontano, estando a afectar animais e a deixar os produtores apreensivos. Válter Raposo acrescentou que se previa “uma certa imunidade” depois das infecções do ano passado, mas há animais que estão a repetir a doença pelo segundo ano consecutivo. “Provavelmente há uma estirpe diferente deste vírus hemorrágico”, disse.

A DHE é uma doença de etiologia viral que afeta os ruminantes, em especial os bovinos e os cervídeos selvagens, com transmissão vetorial (por mosquito), que está incluída na lista de doenças de declaração obrigatória da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).