Em Lisboa e no Sul há disciplinas que não vão ter professores, alerta movimento de docentes

Português e Matemática são duas das disciplinas problemáticas. Ano lectivo pode arrancar com cerca de 200 mil alunos sem pelo menos um professor, alerta o movimento Missão Escola Pública.

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Maior parte dos professores reside na região Norte Nelson Garrido (arquivo)
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A uma semana do início das aulas, o cenário dificilmente poderia ser pior. Por comparação com o ano passado, não só deverão ser mais os alunos que começarão as aulas sem pelo menos um professor, como há disciplinas essenciais com muitos lugares por preencher e para as quais já não existirão docentes disponíveis nos distritos a sul.

É um novo alerta do movimento Missão Escola Pública, que tem por base o número de horários docentes (lugares) que estavam em contratação de escola ao fim da tarde de ontem. A contratação de escola é “alimentada”, sobretudo, pelos pedidos que foram recusados ou ficaram sem resposta nos concursos nacionais.

Para estes cálculos foram só contabilizados horários completos e anuais, ou seja, os lugares em falta para serem asseguradas 22 horas de aulas por semana, a uma disciplina, durante todo o ano lectivo. Estavam por ocupar 1128 destes horários, dos quais mais de metade (722) pertencem às disciplinas de Informática (187), Português (135), Matemática (93), Geografia (87), Inglês (76), Biologia e Geologia (73), Física e Química (71).

Só no distrito de Lisboa faltam 454 professores a estas disciplinas. A situação a sul volta não só a ser a mais grave como corre o risco de não ter resolução, pelo menos com professores qualificados. A Missão Escola Pública assegura que, nos distritos de Lisboa, Setúbal, Faro e Beja, “não existem professores disponíveis no concurso nacional na grande maioria das disciplinas, destacando-se algumas estruturantes”.

Em termos gerais, dos 1128 horários por ocupar, 1033 estão nos distritos de Lisboa (697), Setúbal (254), Faro (60) e Beja (22), segundo apuraram os docentes da Missão Escola Pública num trabalho conjunto com o professor de Matemática responsável por estes cálculos no blogue de Arlindo Ferreira, especialista em estatísticas da Educação.

Norte versus Sul

A falta de professores nestas regiões tem vindo a acentuar-se devido sobretudo à subida do preço da habitação. Como a maioria dos professores vive na região Norte, aceitar um lugar no Sul significa ter de pagar rendas que são incomportáveis para ordenados que rondam os 1400 euros líquidos em média.

A maior parte dos candidatos que permanecem nas listas são professores contratados, que não são obrigados, por lei, a concorrer a todo o país. Nestas listas subsistem cerca de 18 mil candidatos, mas a maioria não tem as regiões com mais falta de professores nas preferências de colocação que manifestou, nem pertence aos grupos de recrutamento (disciplinas) mais desfalcados.

Projectando os próximos dias com base no histórico recente de contratação, a Missão Escola Pública prevê que na data do arranque do ano lectivo, a 12 de Setembro, cerca de 200 mil alunos estejam sem professor a pelo menos uma disciplina, adiantou ao PÚBLICO a sua porta-voz, Cristina Mota. No ano passado, foram cerca de 120 mil. A previsão dos 200 mil parte do pressuposto de que os horários em falta continuem a aumentar, sobretudo pela soma dos que resultam das aposentações (458 este mês), de baixas médicas e dos que não foram colocados atempadamente a concurso.

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