Volkswagen diz só ter um a dois anos para “dar a volta”

Fabricante alemã dá como certa uma reestruturação. Sindicato impõe como condição para as negociações retirar dos planos da empresa o encerramento de fábricas.

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Protesto de trabalhadores da Volkswagen nesta quarta-feira, dia de assembleia geral da empresa, em Wolfsburg Moritz Frankenberg / VIA REUTERS
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Depois de anunciar que está a ponderar o fecho de fábricas na Alemanha, a Volkswagen (VW) diz ter apenas um a dois anos para se redimensionar e “dar a volta” à quebra de vendas que a indústria automóvel enfrenta nalguns mercados europeus.

O director financeiro da maior fabricante automóvel europeia, Arno Antlitz, falou nesta quarta-feira com os trabalhadores do grupo, que aproveitaram a realização da assembleia geral da empresa, na sede, em Wolfsburg, para protestar contra os planos da administração. E admitiu que será necessário tomar medidas drásticas nos próximos anos, que passam pela diminuição de postos de trabalho, incluindo despedimentos pela primeira vez em 87 anos.

“Ainda temos um ano, talvez dois, para dar a volta à situação, mas temos de aproveitar este tempo”, afirmou Antlitz, citado pelo jornal britânico Financial Times. O anúncio do horizonte temporal para concretizar esse plano surge dois dias depois de o presidente executivo (CEO), Oliver Blume, ter assumido que “o encerramento de fábricas nos locais de produção de veículos e componentes já não pode ser excluído” pela VW.

Uma das medidas que estão a gerar maior resistência entre os representantes dos trabalhadores tem que ver com o cenário dos despedimentos, o que, a ocorrer, representa rasgar um acordo de 1994 que protege empregos até 2029. A VW admite-o neste momento, por considerar que, para responder à situação “muito exigente e grave” da indústria europeia perante o surgimento de novos concorrentes, já não basta cortar custos através de reformas antecipadas e saídas voluntárias. O plano inclui cortes de dez mil milhões de euros, diz a Reuters.

O representante do maior sindicato metalúrgico IG Metall na Volkswagen, Thomas Knabel, impõe como condição para iniciar negociações que a empresa retire da equação o fecho de fábricas. Mantê-lo seria negociar “sob a espada de Dâmocles”, reagiu o sindicalista, citado pela agência de notícias britânica.

Duas fábricas sob pressão

De acordo com o site da emissora alemã Deutsche Welle, a VW admite fechar, pelo menos, uma unidade de produção de veículos e uma fábrica de componentes na Alemanha. Ao todo, nos vários locais de trabalho no país de origem, a VW emprega 300 mil pessoas, quase metade de todos os trabalhadores do grupo a nível mundial (cerca de 630 mil, segundo a Deutsche Welle).

Fabricante das marcas Audi, Volkswagen, Skoda, Seat, Porsche, Ducati, Lamborghini, Bentley e Cupra, o grupo tem 114 unidades de produção a nível mundial, distribuídas por 17 países europeus e dez países de outros três continentes (América, Ásia e África). Uma delas é a fábrica portuguesa da Autoeuropa, no concelho de Palmela, onde o grupo produz o T-Roc da Volkswagen.

A concorrência de fabricantes chinesas (da BYD à Geely, passando pela SAIC, e mesmo por estrangeiras que produzem na China, como a norte-americana Tesla) está a preocupar os grandes produtores europeus, designadamente alemães e franceses.

As empresas instaladas na segunda maior economia do mundo estão a conseguir exportar veículos eléctricos para o mercado comum a preços mais baixos e a um ritmo crescente. E foi perante este movimento rápido, associado à incapacidade de as fabricantes fazerem regressar as vendas de veículos movidos a combustível aos níveis da pré-pandemia, que a Comissão Europeia avançou este ano com o agravamento dos direitos alfandegários à importação de carros eléctricos produzidos com subvenções públicas do Estado chinês, consideradas “ilegais” por fazerem uma concorrência desleal às fabricantes do mercado interno.

Embora reconhecendo os “desafios que as indústrias automóveis europeia e alemã enfrentam”, a Associação Alemã de Indústria Automóvel (VDA, na sigla alemã), de que a Volkswagen faz parte, mostrou-se relutante em relação à estratégia de agravar as tarifas logo que Bruxelas as anunciou em Junho, temendo que o resultado seja mais penalizador do que vantajoso, por temer que agrave “ainda mais o risco de haver um conflito comercial global.”

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