“Motivo de grande orgulho”: Nuno Maulide premiado pela Sociedade Americana de Química

Investigador, radicado na Áustria, é o primeiro português a receber este prémio de reconhecimento pelo trabalho em Química Orgânica.

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Nuno Maulide é o primeiro português a receber este prémio Arthur C. Cope Rui Gaudêncio
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O português Nuno Maulide recebeu o prémio norte-americano Arthur C. Cope, atribuído pela Sociedade Americana de Química, como “reconhecimento pela excelência na área da Química Orgânica” – é o primeiro português numa lista com centenas de nomes (alguns deles familiares pelos prémios Nobel recebidos).

Entre os antigos vencedores deste prémio, contam-se nomes bastante famosos da Química, como Carolyn R. Bertozzi, vencedora do prémio em 1999 e do Nobel em 2022 pelo trabalho em “química do clique”. Agora constará também o nome de Nuno Maulide, que afirmou, no anúncio que fez na sua página de Instagram, estar “orgulhoso por ser um prémio americano atribuído a um europeu” — algo que não acontece assim tão frequentemente.

“É um prémio com uma longa tradição e muito prestígio, especialmente nos Estados Unidos. Ser um dos poucos europeus a recebê-lo é realmente motivo de grande orgulho, tanto para mim como para toda a minha equipa de investigação”, disse ao PÚBLICO nesta terça-feira. “É um bom lembrete de que a Química europeia também tem um lugar destacado no palco mundial.”

Com este prémio, o químico português receberá 5000 dólares norte-americanos (cerca de 4500 euros), além de um certificado e uma bolsa de investigação — no tema que o cientista pretender — de 40 mil dólares norte-americanos (ou seja, cerca de 36 mil euros).

Explorar ideias arriscadas

Os 40 mil dólares norte-americanos atribuídos a uma investigação sem barreiras previamente definidas ainda não têm um destino definido. “Abre portas para novas ideias. Tenho algumas em mente”, assegura Nuno Maulide.

“A beleza deste prémio é explorar coisas que ainda não foram muito estudadas”, adianta, notando que estes financiamentos também são úteis para as despesas comuns, como a compra de reagentes químicos ou material de laboratório. Quanto ao projecto, ainda há tempo para decidir. “Seria interessante investi-los em algo realmente arriscado que possa expandir os limites do que conhecemos, talvez uma nova abordagem, uma nova reacção ou um mergulho profundo em mecanismos que ainda não conhecemos totalmente”, refere, sem se comprometer para já com nenhuma proposta arriscada.

Depois de se formar no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, Nuno Maulide tem feito um périplo por várias instituições na Bélgica, França ou Estados Unidos. É actualmente director do Instituto de Química Orgânica da Universidade de Viena, na Áustria, e também professor no Instituto Superior Técnico.

Em 2019, foi eleito Cientista do Ano na Áustria, sendo também o mais novo membro permanente da Academia de Ciências austríaca e o único estrangeiro fora dos países germanófonos a integrá-la.

Os prémios não se ficam por aqui. Aos 44 anos, Nuno Maulide é um dos mais cotados cientistas portugueses, com um já denso percurso na Química Orgânica. O investigador já recebeu cinco bolsas do Conselho Europeu de Investigação para financiar diferentes projectos. Destas, a primeira bolsa europeia avançada (2,75 milhões de euros) foi atribuída em Abril deste ano para manipular as ligações entre os átomos de carbono e de hidrogénio “a partir de um ângulo completamente diferente daquele que as pessoas, hoje em dia, adoptam”, como explicou ao PÚBLICO na altura.

A manipulação destas ligações permite, por exemplo, transformar combustível num composto valioso para perfumarias. Mas estas são técnicas caras, que recorrem a catalisadores metálicos e metais também eles caros. “Quando estas ligações carbono-hidrogénio interagem com um átomo de carbono que tem uma carga positiva, elas próprias começam a activar-se sem precisarem de metais preciosos ou de catalisadores complicados”, explicou ao PÚBLICO em Abril. E é isso que tentará fazer.

Ao mesmo tempo, continua o seu trajecto para comunicar ciência e mostrar que a “beleza e a relevância da química estão presentes no nosso dia-a-dia”. O último exemplo é como o sal e azeite num gelado de baunilha até o tornam mais saboroso. “A ciência tem de sair dos laboratórios e entrar em casa das pessoas.”

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