O lago Mornos, no centro da Grécia, começou a secar e fez com que os restos enlameados de casas previamente submersas começassem a ressurgir, quase 45 anos depois de a aldeia que aqui existia ter desaparecido debaixo de água.
Depois de um Inverno em que quase não houve neve, de um Verão com ondas de calor abrasadoras e de meses de pouca chuva e seca severa em grande parte da Grécia, o enorme lago artificial que abastece de água quase metade da população grega desceu ao seu nível mais baixo das últimas décadas.
“Dia após dia, a água vai baixando”, disse Dimitris Giannopoulos, presidente da Câmara Municipal de Dorida, que afirmou que há 33 anos que não se via nada semelhante.
Longas extensões de solo rachado rodeiam as ruínas da aldeia perdida de Kallio, que foi inundada em 1980 para criar um lago destinado a satisfazer as necessidades crescentes de água da capital, a cerca de 200km de distância. É possível ver tijolos por entre montes de conchas.
O clima mediterrânico árido da Grécia tornou-a particularmente susceptível aos efeitos do aquecimento global, que agravou os incêndios florestais no Verão, incluindo os que atingiram os arredores de Atenas no mês passado. Os cientistas dizem que as condições meteorológicas extremas ligadas às alterações climáticas estão agora a provocar a diminuição da capacidade de água do lago.
“É um sinal de alarme”, disse Efthymis Lekkas, professor de gestão de catástrofes na Universidade de Atenas.
“Não sabemos o que vai acontecer nos próximos tempos. Se tivermos um Inverno sem chuva, as coisas vão tornar-se difíceis”.
Giannopoulos aponta para o Monte Giona que se ergue sobre o lago, que costumava estar coberto de neve, mas que não viu nenhuma no Inverno passado, o mais quente de que há registo na Grécia. Na margem do lago, as árvores adquiriram uma tonalidade amarelada. “Falta-lhes água. Isto nunca tinha acontecido antes”, afirma.
Os poços da zona estão a secar e as aldeias vizinhas, que não retiram água do lago, sofreram cortes de água este Verão. Um chefe dos bombeiros locais disse que o risco de incêndios florestais se aproximava à medida que as florestas se tornavam mais secas.
A superfície do lago diminuiu de cerca de 16,8 km2 em Agosto de 2022 para apenas 12,0 km2 este ano, de acordo com imagens de satélite divulgadas pelo Observatório Nacional da Grécia.
As reservas de água no local e nos três outros reservatórios que abastecem a Ática, uma região com cerca de 4 milhões de pessoas que inclui Atenas, caíram para 700 milhões de metros cúbicos em Agosto, contra 1,2 mil milhões de metros cúbicos em 2022, disse o Ministério do Ambiente do país.
A empresa pública de água de Atenas, EYDAP, começou a abastecer a rede com fontes adicionais de água, informou ainda.
Os antigos residentes de Kallio ficaram surpreendidos por verem a aldeia de novo, mas entristecidos com o seu estado. “Costumava vê-la cheia e dizer que era uma praia. Agora só se vê a secura”, diz Konstantinos Gerodimos, de 90 anos. A sua mulher, Maria, de 77 anos, faz o mesmo: “Se continuar assim, toda a aldeia vai aparecer, até ao fundo, onde ficava a igreja e a nossa casa”.