Scholz lamenta vitória da AfD na Turíngia, que “divide a sociedade e destrói a reputação do país”

Vitória do partido de extrema-direita e resultado de partido populista de Sahra Wagenknecht podem ter efeitos além do estado federado.

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O SPD do chanceler Olaf Scholz não ultrapassou os 7% nas eleições regionais de domingo Michael Probst / VIA REUTERS
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O chanceler alemão, Olaf Scholz, confessou que os resultados das eleições nos estados federados da Turíngia e da Saxónia deste domingo foram “amargos” para o seu Partido Social-Democrata (SPD), que ficou em quarto e quinto lugar, com valores de 6-7%, e lamentou o resultado do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que venceu na Turíngia com 32,8% e ficou em segundo lugar na Saxónia (30,6%), a seguir aos 31,9% da União Democrata-Cristã (CDU).

“O nosso país não pode habituar-se a isto”, declarou. “A AfD prejudica o país. Enfraquece a economia, divide a sociedade e arruína a reputação do nosso país.”

Os resultados do partido causaram choque: foi a primeira vez que um partido de extrema-direita conseguiu o primeiro lugar em eleições regionais desde o pós-guerra. A AfD é, na Turíngia e na Saxónia, considerada um perigo para a democracia pelos serviços de informação e segurança interna da Alemanha.

O líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke, foi já multado duas vezes por usar palavras de ordem nazis em discursos (na defesa, disse que não sabia — algo que o tribunal considerou pouco provável já que Höcke é historiador). Höcke pode ainda ser classificado como “fascista”: uma decisão de um tribunal disse que havia motivos fortes para o fazer.

O que leva eleitores a escolher este partido tem sido objecto de muita especulação. No Twitter, o especialista em Ciência Política Julius Kölzer mostrava em relação a estes dois estados (que são pequenos, juntos têm apenas 7% da população total da Alemanha) várias correlações com o voto na AfD, com factores como o desemprego, a imigração, o isolamento e a falta de serviços, mas apenas um mostrava correlação com mais votos na AfD, a formação académica: a AfD conseguiu mais ganhos em locais com maior percentagem de pessoas sem formação académica.

Em terceiro lugar nas sondagens a nível nacional, o partido tem uma força especial nos estados da antiga República Democrática Alemã (RDA). O sociólogo Steffen Mau, da Universidade Humbolt de Berlim, tem tentado explicar a razão: ao contrário do que acontece no resto da Alemanha, os partidos tradicionais não têm implantação nem ligação à sociedade civil, explicou num ensaio no jornal Die Zeit.

Mais de 30 anos após a queda do muro e da reunificação, há várias diferenças que parecem continuar entre os estados da ex-RDA (ainda hoje chamados “os novos estados federados”) e os restantes. Uma delas diz respeito à Ucrânia, onde há sondagens a mostrar que no Leste há uma maior oposição ao envio de armas ocidentais à Ucrânia, por exemplo, lembra o Financial Times.

Também no Leste a maioria não apoia planos do Governo de Olaf Scholz ter, a partir de 2026, mísseis americanos estacionados na Alemanha.

Aqui entra um partido que teve um bom resultado nas duas eleições deste domingo: a recém-formada Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), que é uma hipótese de parceira de coligação para a CDU, que venceu por pouco na Saxónia, e para um governo minoritário na Turíngia — mas mesmo CDU, BSW e SPD não são suficientes para uma maioria, para isso seria ainda necessário o Die Linke.

Ora isso põe outro problema à CDU, que recusa cooperar com o partido de esquerda radical. E se “começa a ser considerado o fim de um cordão sanitário [à esquerda], também tem de se discutir o outro cordão sanitário”, à direita, declarou o especialista em Ciência Política Oliver Lembke, da Universidade do Ruhr em Bochum, à agência alemã DPA.

Mesmo uma coligação com o partido de Sahra Wagenknecht seria difícil. A BSW defende um forte Estado social por um lado e, por outro, limites à imigração e ao acolhimento de refugiados.

E crucialmente, lembra a Economist, Wagenknecht declarou, antes das eleições, que apenas consideraria coligar-se com partidos que rejeitassem o plano para o regresso de regresso de mísseis americanos de longo alcance à Alemanha em 2026 (o que aconteceria pela primeira vez desde a década de 1990).

Na noite eleitoral, o partido comunicou que apenas se coligaria com governos com um compromisso de mudança e melhoria para as vidas das pessoas; no entanto, Wagenknecht também disse que se deveria considerar eleições legislativas antecipadas face aos maus resultados dos partidos da coligação no Governo nacional (SPD, Verdes e Partido Liberal-Democrata).

Esta era uma hipótese que a maioria dos analistas considerava muito improvável, já que os três partidos que formam a coligação teriam péssimos resultados com essa opção. E, nesta segunda-feira, o chefe dos liberais, Christian Lindner, veio rejeitar essa possibilidade.

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